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Repetindo o gesto de João Paulo II, que em 13 de abril de 1986 visitou a Sinagoga de Roma, também Bento XVI no domingo, 17 de janeiro deste ano, encontrou-se com a comunidade judaica de Roma em seu templo maior. Esta visita realizou-se após vários encontros do Santo Padre com expoentes máximos do judaísmo mundial, particularmente as visitas à sinagoga de Colônia – no primeiro ano de seu pontificado, por ocasião do Dia Mundial da juventude – e à de Nova York e sua viagem a Israel. em peregrinação à Terra Santa. Em Jerusalém, também imitando seu antecessor, visitou o chamado “muro das lamentações’ e ali colocou uma prece pelo povo judeu.

No introdução do inovador texto da Pontifícia Comissão Bíblica sobre o O povo judeu e as suas sagradas escrituras na Bíblia cristã, o Cardeal Ratzinger, então prefeito daquela Congregação, como o era da Congregação da Doutrina da Fé, afirmava que “sem o Antigo Testamento, o Novo Testamento seria um livro indecifrável, uma planta sem raízes e destinada a secar” (n.84). “Sem dúvida, ele afirma, a hermenêutica (interpretação) cristã do Antigo Testamento é profundamente diversa da do judaismo, contudo, corresponde a uma potencialidade de sentido efetivamente presente nos textos. E esse é um resultado – acrescentava Ratzinger – de grande importância não só para a continuação do diálogo cristão-judaico, mas sobretudo também para os fundamentos de nossa fé cristã” (n.64).

Nessa visita de janeiro deste ano, Bento XVI citou o salmo 133, v.1: “Oh! Como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia” e o salmo 126, 2-3 “O Senhor fez por eles grandes coisas. Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor, estamos exultantes de alegria” e comentou: “Cristãos e judeus têm as mesmas raízes, mas permanecem muitas vezes desconhecidos uns dos outros. Compete a nós trabalhar a fim de que permaneça sempre aberto o espaço do diálogo, do respeito recíproco, do crescimento na amizade, do testemunho comum diante dos desafios do nosso tempo.”

Em várias oportunidades, o Papa Ratzinger tem se referido aos judeus como “nossos irmãos mais velhos”. O protomártir Estevão no capítulo 7 dos Atos dos Apóstolos relembra toda a história de Israel, desde o patriarca Abraão, pai da nossa fé, para chegar a Jesus, como o anunciado pelos profetas. O Apóstolo Paulo, em sua pregação, várias vezes partiu da história do povo judeu para anunciar Jesus como o Salvador. Veja-se em Antioquia da Pisídia, no livro dos Atos, 13, 14-41. O apóstolo Tiago nos diz: “Deus escolheu do meio das nações um povo dedicado ao seu nome. Isso concorda com as palavras dos profetas.” (At 15, 14)

Em comum com o povo de Israel, rezamos diariamente os salmos no Ofício Divino, a oração da Igreja por excelência. Com freqüência, a 1ª leitura da missa é tirada de algum profeta do Antigo Testamento. Assim, estamos unidos na mesma oração e na mesma esperança.

Dizia o Papa nesta sua visita à sinagoga: “É perscrutando o seu mistério que a Igreja, Povo de Deus da Nova Aliança, descobre o vínculo profundo com os Judeus, primeiros entre todos escolhidos pelo Senhor para acolher a sua palavra.” E acentuando o diálogo entre as duas religiões: “Despertar em nossa sociedade a abertura à dimensão transcendente e testemunhar o único Deus é um serviço precioso que Judeus e Cristãos podem oferecer juntos.” E acrescentou: “Se conseguirmos unir nossos corações e nossas mãos para responder à chamada do Senhor, a sua luz far-se-á mais próxima de nós para iluminar todos os povos da terra.”

A visita de Bento XVI à sinagoga de Roma é um gesto, carregado de profundo simbolismo desse diálogo judaico-cristão.

(*) É arcebispo emérito de Maceió

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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