Dia oito de março é o Dia Internacional da Mulher. O fato de ser, a cada ano, celebrado com mais intensidade, é sinal que ele levanta causas importantes, que precisam ser assumidas pela sociedade, e integradas na cultura dos povos.

Por muito tempo pesou sobre as mulheres uma carga de preconceitos, que aos poucos precisa ir sendo removida. Foi só a partir de 1930, por exemplo, que no Brasil as mulheres puderam votar. A desproporção ainda existente nos quadros políticos, que apresentam uma presença ainda muito reduzida de mulheres, mostra como os preconceitos arraigados na mente das pessoas e na cultura dos povos, demoram para serem superados e erradicados. Para acelerar este processo, a lei estabelece, por exemplo, que os partidos políticos garantam um espaço mínimo de trinta por cento de candidaturas femininas.

Mas o leque de direitos, que devem ser progressivamente aceitos e implementados, é ainda muito grande.

Em primeiro lugar, é preciso que se reconheça a igualdade de direitos entre homens e mulheres, começando por reconhecimento da mesma dignidade humana que toda mulher possui.

É deste reconhecimento que aos poucos vai se abrindo espaço, para que a mulher possa marcar sua presença, tanto na sociedade como na Igreja.

Como a Igreja é portadora de uma longa história, não é de estranhar que em sua tradição ainda persistam posturas preconceituosas contra as mulheres. Fica muito estranho quando se nega às mulheres a função de preparar a mesa do altar, quando em casa são elas que preparem a mesa da família!

Neste sentido, a sociedade caminhou mais depressa do que a Igreja. Pois bem, a Igreja precisa aprender da sociedade. Ainda mais em questões que envolvem dimensões culturais.

A Igreja tem a missão de evangelizar a sociedade. Mas a sociedade também pode evangelizar a Igreja. O Espírito Santo atua onde quer, também na sociedade Esta pode se tornar uma referência segura para a Igreja para avançar na superação dos preconceitos que ainda persistem contra as mulheres.

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CHILE E HAITI: AINDA A SOLIDARIEDADE

D. Demétrio Valentini (*)

Primeiro foi o Haiti, o país mais pobre da América Latina, sacudido por violento terremoto que deixou a cifra espantosa de mais de duzentos mil mortos.

Agora é o Chile, atingido por terremoto ainda mais forte, mas com seu epicentro um pouco mais distante de aglomerados urbanos.

Ambos, porém, com pesadas conseqüências, que levarão anos para serem reparadas. O mais trágico é sempre o que não pode ser reparado, como a perda de vidas humanas.

Em favor do Haiti, a CNBB em conjunto com a Cáritas lançou de imediato uma campanha, que teve adesões surpreendentes, mostrando como nestes momentos emerge com força a solidariedade para com irmãos e irmãs vítimas dessas tragédias.

Agora para o Chile, a Caritas Brasileira se sente no compromisso de lançar campanha semelhante, mesmo que haja diferenças notáveis a serem levadas em conta. Mas não é o caso de fazer contas em cima das evidentes diferenças. O apelo é o mesmo: em ambos os casos, são irmãos e irmãs que estão passando por grave provação, diante da qual não podemos permanecer inertes, nem podemos ficar só nos sentimentos. Percebemos a necessidade de traduzir nossa solidariedade em gestos de ajuda concreta, por pequena que seja. Ela pode se multiplicar em surpreendentes energias nas pessoas que estão diretamente envolvidas no socorro às vítimas.

Impressiona a seqüência de tragédias que estão se abatendo pelo mundo. Muitas delas fora do nosso alcance como os terremotos e outros desastres naturais. Outras provocadas pela ação humana. Todas mostram o quanto nosso mundo está carente de solidariedade.

Colocadas no contexto da campanha da fraternidade deste ano, sobre a economia e sua relação com a vida, estas tragédias reforçam a convicção de que a solidariedade não pode ser olhada como remédio esporádico, ou componente exótico que enfeita um pouco o cotidiano das nossas refregas.

A solidariedade precisa ser cultivada e implantada como parte integrante de todos os nossos relacionamentos humanos, mesmo aqueles mediados pelas diversas atividades econômicas. A solidariedade não é opção secundária e subjetiva, como tempero facultativo para um cardápio que a dispensa facilmente.

Mesmo quando falamos de “economia solidária”, corremos o risco de vender a idéia de que a solidariedade só é componente de ensaios superficiais e periféricos de alternativas econômicas, enquanto a economia deveria continuar sendo praticada sob o comando dos rígidos ditames do lucro e da exploração.

O próprio mercado nasceu sob o signo da solidariedade, que levava as pessoas a oferecerem o que tinham em excesso, para outras que em troca cediam o que lhes sobrava. Dependendo da análise que a partir daí se faz do processo econômico, facilmente a solidariedade é excluída, ainda mais se aparecem outras referências que se dizem as verdadeiras promotoras da dinâmica econômica.

Pois bem, teorias à parte, a evidência é esta: a solidariedade precisa se tornar conatural à existência humana, e a todos os seus relacionamentos.

Agora, por exemplo, com o terremoto no Chile, devia ser mais do que evidente que é preciso colocar em ação nossa solidariedade. Nem deveria se aguardar a “autorização” de alguém, como se a solidariedade fosse opcional. A Cáritas Brasileira também entende que o apelo é evidente, e precisa ser respondido de imediato, sem aguardar autorizações optativas. E´ a dimensão humana que justifica a solidariedade, a serviço da qual a Cáritas coloca mais esta campanha em favor agora do povo irmão do Chile. Teremos a alegria de constatar a grande solidariedade do próprio povo chileno, reconstruindo seu país e deixando-o melhor do que estava antes do terremoto.


Viva o povo chileno!

(*) (www.diocesedejales.org.br)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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