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Ao contrário do que se repete por aí, a leitura na Internet não é atividade superficial, fugaz. Ou melhor, é tão fugaz quanto qualquer leitura de texto pode ser, dependendo do leitor. Ler um livro é um deslocamento no tempo e no espaço, uma caminhada ao lado de alguém que te conta uma história, fala de seus estudos, declama poemas. É desejável também que seja uma troca de ideias, um exercício de crítica. Às vezes a origem de um sentimento de empatia para com o autor, seus personagens ou suas ideias. Tudo isso se aplica também à leitura virtual.

A Internet é voraz. Rima, mas não tem nada a ver com fugaz. O lobo mau da rede se chama mercado e se apresenta em piscantes popups, vertiginosas imagens de mau gosto que invadem o monitor sem serem chamadas e solertes transbordam das caixas de correio se a gente se distrair.

Quanto ao mais, a Internet é a invenção mais espantosa, arrebatadora e brilhante de que já se ouviu falar em matéria de comunicação democrática – aqui no Brasil mais ou menos democrática, porque a maioria ainda não consegue acesso regular, que aos poucos vai ampliando seu alcance.

Noves fora a certeza de que todo mundo quer aparecer bem na foto, que às vezes aquela beldade arrebatadora é agora uma simpática anciã mas ninguém sabe; que aquele galã de olhar definitivo sofre de um mau hálito insuportável e não gosta de tomar banho ou que o pai amoroso não paga a pensão dos meninos, resta a certeza de que na outra ponta da telinha existe um ser humano em busca de trocas, amizade, consolo ou oportunidade de mostrar seu trabalho, que pode ser muito bom e de outro modo ninguém além da família e amigos mais chegados ia conhecer. Não é pouca coisa.

Tudo que se pede a um internauta é mais ou menos o mesmo que se pede aos viventes deste mundo de tantos deuses: que não seja incauto, não se deixe levar por informações ainda não comprovadas devidamente. Em suma, que não seja otário.

Munido desse comprovante de vacina, deite e role, carpe a rede. Se você tiver objetivos bem definidos, melhor. Há muito que aproveitar – leitura das edições mais atualizadas dos jornais sem sujar os dedos e mais: literatura, artes, ciência e tecnologia, informações úteis sobre praticamente todos os setores e assuntos, viagens, cultura em geral. São dados reais ao alcance dos olhos, da inteligência e da sensibilidade de quem souber aproveitá-los.

No caso de contatos pessoais, observadas as normas do bom senso, só se tem a ganhar. Todo mundo quer mostrar o que tem de melhor. As trocas podem ser muito agradáveis; está comprovada a possibilidade de fazer amigos e existem casos de amores que deram certo e começaram por contatos virtuais.

Claro que há o risco do excesso que, além da LER – lesão por esforço repetitivo – e vista cansada, pode reduzir a vida ao que se vê no monitor, e em vez de aproximar as pessoas separá-las por uma banda larga. Mas essa tendência a virtualizar a vida não é defeito da Internet. O defeito é de quem a põe a serviço de suas limitações, de sua preguiça ou neurose, quando ela deve ser justamente o contrário – um instrumento para ampliar a visão do mundo e alternativamente enriquecer a vida real de contatos humanos. Primeiro mandamento para quem quer se dar bem usando a Internet: a dita vida real tem prioridade absoluta.

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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