Paula Barros 16 de fevereiro de 2010

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Um dia me chamaram de leitora visceral. Eu não sei o que é. Não entendi. Mas deve ser algo ruim. Muito ruim. Não quiseram falar comigo, nem me conhecer. Chorei uma noite, entrecortada de pedaços de sono. Chorei vários dias, de pouquinho em pouquinho, tem situações que não dá para chorar tudo de uma vez. Desidrata. A alma roxa de hematomas fica pingando sangria. Fiquei em retalhos. Fiz uma capa emendada de choro e bordada com tristeza e vesti a alma. Hora uma emenda se descosturava e escorriam lágrimas vermelhas sangue. Borrou um sentimento especial. Passaram-se os dias e eu me fechei, engoli palavras, emoções, comentários. E não suportei a indigestão. Até que um dia abri uma revista e Lima Duarte dizia que para ele no Brasil só tem dois atores viscerais. Ele e Osmar Prado. Então ator visceral deve ser coisa boa. Eles são elogiados. Gosto dos dois. Mas eu não sou atriz. Sou leitora. Voltei a ler quem me emociona, a comentar. E tive medo. Medo de assustar. De afastar. De ser visceral. Visceral lembra vísceras. Víscera lembra miúdo de galinha. Lembra sarapatel de porco. Bucho de bode. Lembra sangue. Lembra alguém atropelado por minhas palavras. Muita gente não gosta de vísceras. Ah, o que é leitora visceral?

Obs: Imagem enviada pela autora ( imagem da internet

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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