Djanira Silva 2 de fevereiro de 2010

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Chega um tempo em que já fizemos as escolhas e pensamos saber como agir. Temos uma história e queremos contá-la. É preciso ter paciência e deixar que as idéias amadureçam. Mesmo, ainda verdes, os fatos precisam de ser preservados, quem sabe, ainda não é tempo, aquele tempo oportuno de que nos fala o Eclesiastes.
Não adiantam conselhos nem estímulos se não acreditamos no nosso sonho. Cada um sabe das suas limitações, nunca do potencial.
De vez em quando falo sozinha e acho que estou ficando louca, na verdade, não seria tão ruim, as pessoas têm medo e respeitam os loucos. Ora, por que não posso conversar comigo? Foi, então, que lembrei da história de um sujeito que foi ao médico e disse: – Doutor, acho que estou ficando doido, falo muito sozinho.
Ora, disse o médico, falar sozinho é comum, é uma forma de pensar alto.
Mas é que minha conversa é tão chata…

Penso que a gente fala alto quando as idéias já não cabem na cabeça. Então, o juízo joga fora algumas para expulsar a loucura.

Muitos são os fatos que me deixam confusa e para ele procuro explicação. Por exemplo, vou às livrarias, e lá vejo os livros como, nos berçários, os recém-nascidos.
Nos sebos estão obras de escritores famosos ou não, com serventia para alguns, e sem nenhum interesse para outros. Penso, então, nos cemitérios.
Para que este afã de escrever e publicar e vender e divulgar? Dá-me uma tristeza, uma vontade de desistir. Consola-me pensar que escrevo para sentir-me viva. Para saber de mim o que ainda não sei.
Quando escrevo sinto-me como se me registrasse novamente em algum cartório ou tirasse um novo batistério.
Nunca se publicou tanto, nem se falou tanto, nem se escreveu tanto como agora. É uma verdadeira farra das letras. Tem letra de todo jeito: bêbada, sóbria, alegre, triste, raramente com saúde e equilíbrio.
Contra as palavras pratica-se toda sorte de violência, fazendo-as vomitar idéias que não engoliram, feito aquele homem que fica na porta dos mercados exibindo uma macaquinha amarrada pela cintura, obrigando-a a fazer mesuras e cabriolas. As palavras metidas à força dentro de um livro, sem sentido e sem nexo, parecem macaquinhas adestradas. Mas, apesar dos pesares, existe quem goste de ver a macaquinha dançar do mesmo jeito que, para cada livro, existe um leitor.

O importante é não parar de escrever.
Escrevo e guardo do mesmo jeito que o fotógrafo guarda negativos de filmes. Alguns se perdem por excesso ou falta de luz. Os que resistem serão revelados.
Assim procedo com este livro inteiramente dedicado a mim e, a partir de agora, passarei a me chamar de você.
Nele falo de coisas que vi, imaginei ou que aconteceram comigo. É o meu folclore.

Obs: Texto retirado do livro da autora – Deixe de ser Besta –

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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