Djanira Silva 9 de fevereiro de 2010

 

Um escritor, do qual no momento não me ocorre o nome, disse a respeito de sua obra: “Tudo o que não inventei é mentira”.
Este trabalho é fruto de uma observação crítica e debochada. Sou assim mesmo, assim mesmo é que sou.
O humor é minha droga. De vez em quando reincido. Abstêmia, escrevo coisas sérias. Há quem não goste. Pouco me importa. Quem escreve, faz feito o Sol que nasce todos os dias sem escolher a quem vai iluminar. Portanto, digo e repito: para todo livro existe um leitor.
Os que lêem Shakespeare passam longe de Sydney Sheldon e de outros semelhantes. Os fãs daquele bem sucedido financeiramente e que se intitula O Mago, nunca ouviram falar de Joyce, de Proust ou Faulkner. Autores geralmente são citados quando o escriba quer dar uma de sabido. A maioria diz que leu mas, na verdade, é mentira. Os que falam de Ortega y Gasset, filósofo espanhol, nem sabem que se chamava José. Outros se referem a Carlyle, historiador e ensaísta escocês, na crença de que estão passando recibo de sabedoria.
Leitores de Proust, conheço poucos.

Não pretendo falar de dores, nem sofrimentos. O sofrimento só serve ao seu dono, enquanto as dores interessam aos médicos, farmacêuticos e hospitais. A ausência delas interessa aos donos de funerárias e aos coveiros.
Existem pessoas viciadas em médicos. E, ai deles, se não lhe arranjarem alguma doença ou não prescreverem uma porrada de exames e remédios. Estas criaturas estão em busca de sofrimentos verdadeiros ou imaginários, quando seria preferível deixar que eles os encontrassem sem se darem ao trabalho de procurá-los.
Tenho um amigo que aconselha: – Não dê ouvidos a médicos. Eu dou, ao otorrino. Bem entendido, os ouvidos.

Tristezas e amarguras regalam os invejosos. A felicidade alheia incomoda do mesmo jeito que a claridade incomoda aos morcegos. Certa vez, escrevi: jogo minha alegria na inveja alheia. Isto é o que chamo de frase purgante, faz efeito rápido.
Não pretendo dar conselhos nem orientar a vida de ninguém. O mundo está aí dando lições a toda hora. Resta saber tirar proveito.
As pessoas me perguntam se sou assim bem humorada em casa. Até que seria se alguém me dissesse o que tem lá pra eu achar tanta graça.
Sabemos que a casa é o lugar onde a gente se livra das máscaras que usou o dia inteiro, e, são várias: a de encarar o patrão; a de enfrentar o trânsito; a dos sorrisos distribuídos entre amigos e companheiros, afinal, todas para nos defender e continuarmos vivendo. É o lugar de descanso e de reclamação. Descanso muitas vezes mais cansado do que se estivéssemos trabalhando. As preocupações são outras e bem mais chatas. Ali já se chega reclamando dos pés que doem, da roupa molhada de suor, da comida que não está pronta, dos sapatos deixados no meio da casa, das toalhas molhadas em cima da cama, do papel higiênico fora do lugar, da água fervendo no fogão à espera não sei de quê, e assim por diante. Agora, me digam, achar graça de quê?

Obs: Texto retirado do livro da autora – Deixe de ser Besta

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]