D. Edvaldo G. Amaral 8 de fevereiro de 2010


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Conhecido teólogo brasileiro, de fama mundial, teve um conflito com a Congregação da Doutrina da Fé, de que era prefeito o então Cardeal Joseph Ratzinger. Após colóquio amistoso com o Cardeal Prefeito, do qual nada se soube oficialmente, ele escreveu belíssimas palavras, que como bispo de Parnaíba (no Piauí) pude ler em cópia datilografada, à qual tive acesso. Não tenho as palavras exatas, mas o teor da declaração, digna de grande teólogo, era mais ou menos este: “Entre minha teologia, esforço científico de meu pensar e a minha fé, dom do Espírito, prefiro ficar com a minha fé”. Infelizmente, fatos posteriores não confirmaram este belo pronunciamento do afamado teólogo, naquela circunstância crucial de sua vida de estudioso e fiel cristão. Deixou a vida religiosa, o sacerdócio e, segundo alguns, talvez até abandonou a Igreja..

Eis que agora, em 1º de dezembro último, o mesmo Papa Ratzinger teve interessante encontro com os membros da Comissão Teológica Internacional, no qual pronunciou a homilia da Santa Missa, que o jornal vaticano chamou de “improvisada”. Na verdade, o Papa falou sem texto escrito (coisa rara em discurso papal), como um velho professor de teologia confabulando com seus colegas de magistério. Bento XVI tomou o texto evangélico da liturgia do dia, em que Jesus louva o Pai porque escondeu o grande mistério do Filho, o mistério trinitário e cristológico, aos sábios e doutos – que não o conheceram – e revelou aos pequenos, aos que não são doutos. E acrescentou que aquele era um convite a um exame de consciência: “O que somos nós, teólogos?” “Como fazer bem teologia?”

Na festa da Epifania do Senhor é proclamado o texto de Mateus, 2, vers .4, em que lemos a investigação que os Magos fazem do lugar onde teria nascido Jesus. Comenta o Santo Padre em sua homilia tão espontânea: “Quando os Magos do Oriente perguntam aos competentes, aos exegetas, o lugar do nascimento do Salvador, do Rei de Israel, os escribas sabem-no muito bem porque são grandes especialistas; podem dizer imediatamente onde nasce o Messias: em Belém! Mas não se sentem convidados a ir: para eles é um conhecimento acadêmico, que não diz respeito à sua vida; eles permanecem fora. Podem dar informações, mas a informação não se torna formação da própria vida.”

E podemos acrescentar: A estrela da fé que guiou os magos desde o Oriente, desapareceu quando eles estavam em Jerusalém, quando consultavam os poderosos – Herodes, cruel e medroso e os sábios, ospca doutores da lei. A estrela não levou poderosos, sábios e doutores até Jesus e Maria como fez com os Magos, que vieram despojados e confiantes. E eles foram aconselhados a voltarem “por outro caminho”…

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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