Djanira Silva 23 de fevereiro de 2010

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O castigo de quem ajuda os outros é vê-los correr na frente deixando o ajudante pra trás.

Minha avó dizia que quem ajuda os outros, carrega o diabo nas costas. E é verdade, quem quiser ajudar, faça-o ensinando, ou então ajude a quem pedir, para não correr o risco de ouvir: fez porque quis.
Quando você cede seu lugar a alguém numa fila, automaticamente, é passado pra trás.
Quantas e quantas vezes ouvimos a queixa: dei tudo aos meus filhos e eles não retribuem, são egoístas e mal agradecidos. Não poderia ser diferente, foram ensinados apenas a receber. Ajudar os filhos, só a atravessar a rua para o carro não pegar. Deveríamos agir como os irracionais que, paradoxalmente, são mais racionais do que nós. Ninguém vê um animal adulto agarrado nas tetas da mãe ou montado nas costas do pai, nem uma mãe passarinho voando com os filhotes no lombo. É isto aí, amigos. O amor de mãe é cosido nas peças do enxoval. Os filhos já nascem amados.
Aliás, sobre o amor, os Dez Mandamentos é bem claro quando diz: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Em seguida, diz: Honrar pai e mãe. Não manda amar. Então eu penso que sofrimento de mãe é castigo por infringir as leis Divinas. Amar verdadeiramente a Deus acima de todas as coisas. Elas colocam os filhos acima de tudo. Será que isto é bom ou não agrada ao Senhor?
Quanto ao amor de filho, é nó cego. Se o sujeito ama demais, sofre, dependendo do sexo, dos famosos complexo de Édipo ou Electra. E a gente, se pensar muito no assunto, pira de vez.
Os consultórios psiquiátricos funcionam como delegacias, onde os filhos prestam queixas das mães superprotetoras que amaram demais, ou das omissas que amarem de menos. Não sei se algum deles já encontrou solução para o problema. Se o paciente gosta do médico, é transferência; se não gosta, é rejeição. Durma com esta loucura, acorde no divã e corra para casa. Lá, por pior que seja, os doidos são conhecidos.

Sem dúvida alguma, nascemos com um destino traçado e, tal e qual os atores de uma pela, temos um papel a desempenhar. É uma comparação comum, repetitiva, porém, a única capaz de explicar os encontros e desencontros da vida.
Então, eu me pergunto: por que ter raiva de Judas? Ele não escolheu, foi escolhido, do mesmo jeito que todos os que fazem parte desse grande teatro. Alguns têm papel de destaque, enquanto outros são meros figurantes, entram e saem sem serem notados. Tomemos Cristo como parâmetro, Sua paixão e morte foram pensadas e organizadas sem que os participantes fossem consultados. As próprias religiões ensinam que nada acontece por acaso e que não cai um só fio de cabelo das nossas cabeças sem que Deus o permita.
Talvez, em virtude de toda esta organização, ou predeterminação, incorramos em grave erro quando nos metemos a ajudar os outros interferindo no papel deles. Que diretor gostaria dessas interferências no desenrolar de uma peça?
A ingratidão é, sem dúvida, o castigo que recebemos por tentarmos mudar os desígnios de Deus. É como se criticássemos Seus atos, ousando corrigi-los.
É possível que no decorrer da peça, algum ator se esqueça das suas falas. Para isto existe “o ponto” colocado dentro do ouvido para ajudá-lo.
Nos Evangelhos, encontramos uma parábola que bem define a responsabilidade que temos de prestar contas diante de Deus pelos nossos atos e não pelos dos nossos semelhantes: um senhor chamou três dos seus servos e a cada um deu alguns Talentos, moeda da época. Tempos depois, voltou para saber o que haviam feito com as moedas recebidas. Cada um prestou contas do que recebera.
O Senhor, em nenhum momento, perguntou se um havia ajudado o outro mostrando, assim, que somos responsáveis pelos nossos atos e não pelos dos nossos semelhantes.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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