“UFS comemora um ano de interiorização plena.” (?)
(Notícia veiculada na página da internet da UFS em 14 de agosto.)


No artigo da semana passada, discorremos, analiticamente – muito embora com as limitações específicas de um ensaio de natureza jornalística –, sobre o Programa de Expansão das universidades federais – promovido pelo Governo Federal, através do MEC/Sesu – e a participação da nossa Universidade Federal de Sergipe.
Dentre as coisas de que falamos, demonstramos, argumentativamente, que, em verdade, quando se fala que está havendo uma Expansão da Universidade, melhor seria afirmar que está havendo uma Expansão do Ensino Universitário, sob pena de estarmos construindo, no imaginário e inconsciente coletivo da sociedade sergipana e da comunidade acadêmica em geral, uma falácia semântica.
Essa distinção parece fora de propósito ou pouco significativa, mas, na realidade, olhando para o que nos diz a Constituição Federal – quando afirma, peremptoriamente, o princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, como elementos intrínsecos e constitutivos de uma Universitas – não podemos deixar de apontar o equívoco semântico e pragmático. Até mesmo porque, ano que vem, assim como o foi em 2006, haverá eleições no âmbito municipal e, fatalmente, o tema da expansão universitária será tratado nos palanques partidários. E, então, não se poderá, simplesmente, enaltecer os acertos das políticas público-educacionais do Governo Federal e encobrir os erros das mesmas.
Pois bem. Neste terceiro ensaio da série sobre a UFS, conforme prometemos, queremos apresentar – a partir da análise reflexiva, retrospectiva e perspectiva que temos realizado – nossas impressões sobre o processo de expansão do ensino universitário da UFS em Itabaiana e Laranjeiras. Como temos enfatizado, a nossa análise não se pretende exaustiva, peremptória, incorrigível, contundentemente afirmativa, ou mesmo final. Mas sim, ao contrário, uma análise reflexiva, conjectural – mas com base na retrospecção dos fatos que temos visto, ouvido e vivido – e propositiva. E calha bem, nesta semana, onde comemoramos um ano de início das atividades universitárias em Itabaiana.
Aliás, a nossa epígrafe de hoje, a propósito do aniversário da federal em Itabaiana, traz a notícia destaque da página da UFS na internet: “UFS comemora um ano de interiorização plena”.
A questão é: estamos vivendo realmente esta interiorização plena ou, infelizmente, é mais uma falácia que se quer construir com vistas à pretensão político-partidária ou mesmo político-universitária de quem quer que seja? Vejamos.
Ainda no texto do ensaio passado, se o leitor bem lembrar, nós, por duas vezes, ao nos reportarmos à expansão do ensino universitário da UFS em Itabaiana e Laranjeiras, usamos os sinais de aspas duplas para falar em “Campus” de Itabaiana e “Campus” de Laranjeiras. Foi proposital o uso de tais sinais e, agora, explicamos o porquê.
O vocábulo “Campus” foi dicionarizado e incorporado à nossa língua vernacular somente depois da segunda metade da década de 70 (dicionários importantes anteriores a isso, como o de Caldas Aulete, não o registravam). E o foi de modo equivocado, porque “Campus”é um étimo latino. A grafia correta, segundo a língua vernacular e normativa – para não incorrermos no mesmo barbarismo que quase todos cometem –, seria, no singular, “o Câmpus” e, no plural, “os Câmpus”. Mas, enfim, não é essa a discussão que queremos trazer à baila.
A discussão diz respeito ao sentido sociológico do vocábulo “Câmpus”: “um conjunto de prédios de uma universidade ou colégio com administração e recursos próprios”. O que ocorre é que, tanto em Itabaiana, quanto em Laranjeiras (e nesta, atualmente, de modo mais grave), a UFS – com os seus órgãos administrativos, constitutivos e regimentais – não se faz presente.
Num primeiro momento, pelo menos em Itabaiana, isso não se faz sentir de modo mais grave, por uma razão simples: as demandas administrativas, tanto dos docentes, quanto – principalmente – dos discentes, é módica. Mas o cenário futuro – se não houver um planejamento estratégico imediato – é preocupante. Imaginem, vocês, que um simples trancamento de disciplina necessita da ingerência da UFS/São Cristóvão. A apresentação de um simples atestado médico necessita da ingerência da UFS/São Cristóvão. E mais que isso, hoje, se uma fechadura de uma porta quebrar, temos recursos próprios – advindos do Programa de Expansão – para mandar consertar. Mas findo o programa, tudo dependerá da Prefeitura do Campus de São Cristóvão, porque não haverá mais uma dotação orçamentária específica. É ou não é preocupante o cenário? Quem conhece o funcionamento da Prefeitura do Campus em São Cristóvão, sabe bem do que estamos alertando.
Por isso, em verdade, assim como é falacioso, semanticamente, falar em expansão da universidade, em vez de expansão do ensino universitário, também o é, falar em “Câmpus” de Itabaiana e “Câmpus” de Laranjeiras. Até mesmo porque, além do que dissemos acima quanto aos órgãos administrativos inexistentes nestas localidades, nem mesmo departamentos de ensino lá temos. Temos ainda os chamados “Núcleos de Graduação”. E não o temos porque só se pode constituir departamentos – como determina o Estatuto e o Regimento Geral da UFS – com o mínimo de dez docentes efetivos. Será que chegaremos a esse número até 2009? Não sabemos ao certo. Esperamos que sim. Mas o fato é que a promessa das 30 vagas de efetivo por ano, ainda não foi cumprida e, com isso, já voltamos à velha e falida fórmula do “professor substituto” que é contratado num processo concursal simplificado e sem exigências de graus acadêmicos de mestrado e doutorado.
Em Laranjeiras, a situação é ainda mais catastrófica. A UFS, decididamente, lá não chegou. Tudo não passa da execução daquele famoso brocárdio escolar: “vocês fingem que aprendem e eu finjo que ensino”. Lá a situação é semelhante: “Eu, UFS, finjo que aqui estou e vocês, que passaram no vestibular, fingem que aqui estudam”. Não há estrutura de nada. Não há prédio, não há professores efetivos, não há transporte, não há segurança, e, neste momento, nem alunos há, porque estes estão, acertadamente, em greve. Enfim, em Laranjeiras, não há UFS.
Em Itabaiana, a situação estrutural é melhor. Mas não poderia ser diferente, por uma razão simples: o governo federal já investiu dez milhões de reais lá. Poderia ser diferente? A questão é: a administração tem um planejamento estratégico de como será o Campus em 2010 com 4000 alunos e sem verbas específicas? Esperamos que sim.
Seja como for, a comunidade acadêmica – a que não se encanta com o Poder e nem dele tem medo ou se rende – está bem atenta para aqueles que querem, em Laranjeiras e Itabaiana, fazer da expansão, simples e tão-somente, um trampolim para suas pretensões político-universitárias futuras.

(*) http://www.uzielsantana.pro.br/

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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