E A IMOLAÇÃO DA DRª ZILDA ARNS

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O rabino americano Harold Kushner, tendo passado por um trauma pessoal, escreveu o livro intitulado “Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas”. Quando seu filho Aaron completara três anos, começou a apresentar sinais de uma doença estranha. Médicos famosos deram os nomes mais complicados todavia, garantindo que ele teria vida normal. Mas a surpresa viria com o diagnóstico final. A doença se chamava “progéria” e consistia no envelhecimento precoce. A via-sacra se estendera até os catorze anos. De um primeiro momento de indignação natural, de muitos “por que eu” ou de “como Deus permitiu que isso acontecesse comigo”, ele chegara à conclusão que “não é Deus que causa a tragédia, a doença, o sofrimento. Um terremoto não distingue entre pessoas boas e más, nem o câncer, nem o derrame cerebral, nem a progéria. Existe uma aleatoriedade no universo e a natureza é moralmente cega”.

Esse livro me transportou para a recente realidade do Haiti, onde multidões têm sofrido os frutos da catástrofe que assola o país. Exatamente esse país tão pobre e que é um símbolo libertário na América Latina e Caribe. Ele é o primeiro país a abolir a escravidão negra e nem por isso deixa de ter uma história trágica marcada por miséria, guerras civis, furacões, doenças, aids.

O romancista haitiano Jacques Roumain, é autor da considerada obra-prima da literatura do Haiti, Les gouverneurs de La Rosé (Os donos do Orvalho) e teve seu poema traduzido por outro poeta, o brasileiro Manuel Bandeira: “O Haiti é uma esponja empapada de sangue”.

A Ilha Hispaniola , como era chamada no início,foi visitada por Cristóvão Colombo em 1492. Já no fim do século XVI, quase toda a população nativa havia desaparecido, escravizada ou morta pelos conquistadores.A parte ocidental da ilha, onde hoje fica o Haiti, foi cedida à França pela Espanha em 1697. No século XVIII, a região foi a mais próspera colónia francesa na América, graças à exportação de açúcar, cacau e café. Após uma revolta de escravos, a servidão foi abolida em 1794. A Revolução Francesa repercutiu lá reascendendo nos haitianos o ardor da independência. Dessa forma, o Haiti foi sede da maior rebelião negra da História. Em 1801, o ex-escravo Toussaint Louverture tornou-se governador-geral, mas, logo depois, foi deposto e morto pelos franceses. O líder Jacques Dessalines organizou o exército e derrotou os franceses em 1803. No ano seguinte, foi declarada a independência e Dessalines proclamou-se imperador. Após período de instabilidade, o país é dividido em dois e a parte oriental – atual República Dominicana – reocupada pela Espanha. Em 1822, o presidente Jean-Pierre Boyer reunificou o país e conquistou toda a ilha. Em 1844, porém, nova revolta derrubou Boyer e a República Dominicana conquistou a independência.

Mais de 80% de sua população vive abaixo da linha de pobreza. Só 20% falam o francês- os demais falam o creole, que é uma mistura de francês antigo, espanhol e dialetos africanos.

Há atualmente (isto é, antes da catástrofe) 70% de desempregados. Quanto à religião, 64% são de católicos, 23% de protestantes e, de acordo com as estatísticas, 5% estão ligados aos cultos vodus. Mas, na verdade, esse culto impregna a população refletindo a ligação com os cultos de matriz africana.

Desde a sua independência, o Haiti teve 16 presidentes depostos ou assassinados. Em 1915, os Estados Unidos invadiram o país e só se retiram em 1934. Em 1957 começa a era do famoso François Duvalier que a partir de 1964 se torna presidente vitalício e feroz ditador – fica no poder até à morte em 1971 sendo substituído pelo seu filho.
Por solicitação da ONU, a presença brasileira se manifesta lá através das forças armadas. De um lado ela é estimada pela população, de outro, contestada aqui com o argumento, como o de Gabeira, que seria melhor levar para lá sementes e não soldados.
De qualquer forma, a primeira nação das Américas a abolir a escravidão clama por ajuda.

A presença da Drª Zilda Arns nesse momento de catástrofe foi simbólica. Representou uma imolação, uma comunhão com os mais pobres, a quem ela dedicara toda uma vida através da Pastoral da Criança. Seus méritos foram reconhecidos por Salvador, quando ela, por proposta do Vereador Silvoney Sales, recebeu o título de Cidadã de Salvador.
São muitas as merecidas mensagens apresentadas no site dela. Destacamos essa que tem como título: “Uma perda para o mundo”.

“O mundo ficou mais triste ao perder essa estrela para o céu do Senhor. Contudo, O romancista haitiano Jacques Roumain, é autor da considerada obra-prima da literatura do Haiti , Les gouverneurs de La Rosé ( Os donos do Orvalho) e teve seu poema traduzido por outro poeta, o brasileiro Manuel Bandeira: “O Haiti é uma esponja empapada de sangue”.

O romancista haitiano Jacques Roumain, é autor da considerada obra-prima da literatura do Haiti , Les gouverneurs de La Rosé ( Os donos do Orvalho) e teve seu poema traduzido por outro poeta, o brasileiro Manuel Bandeira: “O Haiti é uma esponja empapada de sangue”.

O romancista haitiano Jacques Roumain, é autor da considerada obra-prima da literatura do Haiti , Les gouverneurs de La Rosé ( Os donos do Orvalho) e teve seu poema traduzido por outro poeta, o brasileiro Manuel Bandeira: “O Haiti é uma esponja empapada de sangue”.

Pessoas como Drª Zilda nos são dadas por empréstimo. Cumprida a missão precisa voltar aos braços do Pai Celeste. E sua missão foi cumprida, a semente foi plantada e os frutos são inúmeros – nos já os vemos pelo mundo a fora. Descanse em paz aquela que tanto semeou a paz, a esperança e a caridade. Nós cristãos precisamos olhar para o céu e agradecer a Deus pelo exemplo de entrega desta santa guerreira.Vá com Deus e vele por nós”.

Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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