Passada uma semana do terremoto no Haiti, ainda continuam os esforços para socorrer vítimas, e salvar vidas que ainda se encontrem sob os escombros.

Em meio ao desmantelamento da infra-estrutura, os esforços se concentram agora no atendimento às necessidades básicas de água, comida e remédios para a sobrevivência de milhões de pessoas afetadas pela tragédia.

Ela despertou comovente solidariedade em todo o mundo. Como sempre, em momentos assim, o difícil é encontrar os caminhos para que a solidariedade chegue aos necessitados. Os governos estão se dando conta que há providências a serem tomadas por eles, sem delongas e da maneira a mais expedita possível.

A campanha lançada pela Cáritas Brasileira, a pedido da CNBB, oferece segurança a todos os que desejam colaborar, pela maneira como ela se realiza nas comunidades, pela garantia da destinação correta dos recursos arrecadados, e também pela estratégia de fazer chegar logo os recursos, para entregá-los a quem está no local, com a possibilidade de identificar as providências mais urgentes e adequadas.

A campanha da Cáritas Brasileira está articulada com a Cáritas Internacional, que já enviou representantes para o Haiti, para colaborar diretamente com a Cáritas local. Para facilitar o apoio às vítimas, a Cáritas reforçou sua ação a partir da República Dominicana, país vizinho ao Haiti, na mesma ilha.

A campanha deve prosseguir. Também para este final de semana, a CNBB recomenda que se façam coletas nas celebrações das comunidades. Pois na medida que a situação se estabilizar, vão emergindo com mais clareza as providências a serem tomadas para a reconstrução.

Neste sentido, cresce a consciência de que é preciso repensar mais em profundidade, à luz da história, as causas que trouxeram tanta pobreza para o povo haitiano. O terremoto está interpelando as consciências. Assim como é indispensável remover escombros, para que as vidas não fiquem sufocadas, é importante remover preconceitos históricos, que continuam abafando a dignidade do povo haitiano, e impedem que ele percorra o caminho da liberdade, da justiça, do desenvolvimento, da própria soberania, para que ele mesmo assuma com respeito e competência o seu destino, no convívio pacífico com as outras nações.

O Haiti foi o primeiro país latino americano a conseguir sua independência, ainda em 1804, com a inesperada “revolta dos escravos”, que infligiram contundente derrota às forças da França. Portanto, a independência do Haiti brotou da consciência de liberdade do seu povo valoroso. Em seguida, foi capaz de ajudar a outros países latino americanos a também buscarem sua independência, colocando como condição que abolissem a escravidão, coisa que Bolívar esqueceu de fazer depois que conseguiu seus intentos políticos.

Esta postura altaneira do povo haitiano lhe custou um preço histórico muito caro. A França derrotada conseguiu impingir contra o país uma pesadíssima dívida, cujo pagamento foi comprometendo a economia do Haiti por longas décadas. O atrevimento do valente país em contrariar a ordem mundial estabelecida na base da supremacia da Europa e da raça branca, foi motivo para represálias em forma de boicote econômico, que foi arruinando sua incipiente economia. De 1915 a 1934 o Haiti foi dominado pelos Estados Unidos, que só se retiraram depois que conseguiram o pagamento das dívidas com o City Bank, e autorização para estrangeiros adquirirem propriedades no país.

Continuando a lembrar a triste sina deste pobre povo, não se pode esquecer os longos anos de ditadura sob títeres apoiados pelos Estados Unidos, com o falso pretexto de assim impedirem a penetração do comunismo.
O mundo não está inocente diante do Haiti. Há uma reparação a ser feita agora, em vista das injustiças praticadas contra um povo que teve a ousadia de ser livre e a coragem de pensar um mundo com dignidade e justiça.

(*) www.diocesedejales.org.br

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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