Há bons anos, antes dos cinco de idade, eu entendia a política perfeitamente. Depois, com o tempo, fui gradativamente me tornando mais ignorante, a ponto de hoje em dia não entender quase nada desse assunto. Naquela época, quando criança, a política era para mim simples assim: as pessoas viviam em grupos e, como os problemas que se apresentavam eram muitos (limpar a rua, trocar as lâmpadas quebradas dos postes, asfaltar as avenidas, etc.), fazia-se necessário que alguns homens e mulheres se predispusessem a administrar tais funções. Por isso, pensava eu, existiam os cargos de prefeito, governador e presidente e, para ocupá-los, existiam as eleições e a política.

Depois, quando procurei saber por que existiam vereadores, deputados e senadores, a resposta que me foi dada também foi tão simples que eu naquela idade já pude entender. Disseram-me que eles existiam para fazer duas coisas: em primeiro lugar, para crias as leis, que eram importantes para manter a ordem, pois a vida em comunidade seria um caos, senão impossível, se cada um pudesse fazer o que bem entendesse; em segundo lugar, para fiscalizar aquelas pessoas que eram escolhidas para administrar o uso do dinheiro público, que era o dinheiro de todo mundo.

Tudo, na minha cabeça, era perfeitamente organizado e lógico, de forma que eu mesmo me admirava quando alguém escolhia para si a missão de desempenhar tarefas tão árduas como essas de lidar com os problemas amplos e complexos que podem oferecer a administração de um Estado ou de uma cidade, por exemplo. Mais admirável ainda me era o fato dessas pessoas quererem ter o encargo de fazer tudo isso com dinheiro que não era só seu, o que, por certo, exigiria uma responsabilidade descomunal, já que não poderiam cobrir eventual prejuízo que causassem as demais pessoas.

Por falar em dinheiro público, o dinheiro de todo mundo, lembro-me que até a questão dos impostos me era óbvia. Ora, disseram-me que nada se fazia sem dinheiro e que, por isso, era preciso que cada um contribuísse proporcionalmente ao que ganhava. Tudo isso para que, com o montante proveniente da colaboração imposta a todos, os serviços e as obras que se precisasse fazer fossem feitos.

Notava também que as mesmas pessoas que pagavam impostos iriam usufruir direta ou indiretamente desses serviços, o que tornava o argumento justificável, mesmo para uma criança. Ademais, também entendi que as pessoas que administravam as cidades, estados e o país precisavam receber por isso, pois de outra forma não poderiam sustentar a própria família e a si próprios: daí, os salários e as verbas extras. Afinal, quem poderia dedicar todo o seu tempo a um trabalho e não ser remunerado por isso? Apenas poucas pessoas se poderiam dar a esse luxo.

Depois da infância, paradoxalmente, tudo começou a ficar mais confuso. Hoje, então, é uma incógnita só: leio os jornais e eles dizem que fulano vai se coligar com cicrano e, se isso acontecer, ele se elegerá. Como assim?! Aquela ideia que aprendi na infância de que a democracia é um sistema em que o povo escolhe pelo voto livre o melhor candidato, ou seja, aquele com o melhor programa para administrar os interesses da coletividade, não tem mais qualquer serventia? Parece que nunca serviu: tal pensamento, ao que se demonstrou, era-me apenas coisa de infância.

O pior para mim é que, mesmo que eu tente evoluir para a fase adulta no modo de entender tudo isso e passe a aceitar cegamente o que o jornal diz, no outro dia, a notícia que vem estampada é não raramente o contrário exato da do dia anterior. É verdade que eu já havia escutado o jargão “a política é dinâmica” na infância, mas ninguém havia de explicado que era sem direção.

Hoje, continuo sem entender para que serve algo dinâmico que não tem direção. Ora, melhor seria se fosse estático, pois pelo menos não estaria desesperadamente indo de um lado para outro e vice-versa até chegar o dia da eleição. Parece aquela brincadeira da batata quente, só que no lugar do tubérculo se tem um mandato.

Pior ainda para o meu entendimento é quando o noticiário diz que um parlamentar somente votará a favor de tal projeto se tais emendas forem liberadas ou, em outras situações, se o governo oferecer alguns cargos para o seu partido. Eu, que na infância pensava que parlamentares deveriam votar com base em suas consciências e convicções e que, além disso, cargos públicos deveriam ser ocupados por pessoas com condições técnicas para desempenhar com brio e propriedade as funções que lhe seriam exigidas, fico perdido e atônito, ainda mais porque me parece que para todo mundo isso é normal e ninguém diz nada.

Sei não… Cá estou eu, mais velho, cheio de cabelos brancos e embrutecendo-me – emburrando-me – politicamente cada vez mais… O que é mais estranho é que, diante de tudo isso, nasce dentro de mim um prazer mais confuso ainda do que a própria política: cada vez que fico mais ignorante politicamente, vem-me uma sensação tranquila de que, nesse campo, saber menos e menos é a coisa certa.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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