Em várias regiões do Brasil, começamos 2010 com inundações e catástrofes naturais. A cada dia, os telejornais repetem que, em tal região do país, nestes dias, a quantidade de chuva excedeu a cota que seria de todo o mês de janeiro. Nestes dias, a humanidade inteira chora com o povo do Haiti a tragédia repentina que se abateu sobre aquela terra já tão castigada pela crueldade do sistema do mundo.
Muitas pessoas ainda pensam que, mesmo exagerados e vindos todos de uma só vez, estes fenômenos sejam naturais. Entretanto, a maioria da humanidade está consciente de que, diferentemente de problemas ocorridos em outras épocas, desta vez, as mudanças do clima e catástrofes naturais vêm de forma mais forte e concomitante, não exclusivamente, mas também e fortemente, por responsabilidade da própria sociedade humana. Já em 2007, bem antes do fracasso da Conferência Internacional sobre Mudanças Climáticas em Compenhague, a Assembléia Geral da ONU determinou que, no mundo inteiro, 2010 será considerado “ano internacional da diversidade biológica”.
A Organização das Nações Unidas recomenda aos Estados-Membros que estabeleçam comissões nacionais de pesquisas e estudos sobre este assunto, assim como realizem atividades que visem a promover as espécies ameaçadas de extinção e a salvaguardar a integridade da natureza. Conforme cientistas, como Dani Boix I Masafret, da Universidade de Catalúnia na Espanha, a cada dia, desaparecem 47 espécies vivas da fauna e da flora. Isso significa que, por hora, morrem duas espécies de plantas ou animais que, nunca mais, se reproduzirão neste planeta.
É possível que, na Terra, vivam 10 milhões de espécies. Por isso, este atual desaparecimento das espécies parece não ter gravidade maior. Entretanto, a morte de uma espécie acarreta um desequilíbrio na relação das outras e, como efeito cascata, desencadeia uma sucessão de destruições. Dizem que, nos rios da Amazônia, o peixe-boi comia determinado capim aquático. Sem o peixe-boi, este capim se prolifera sem controle e sufoca as águas que ficam sem oxigênio. Outras espécies vivas que dependem daquela oxigenação morrem também. Há rios em que um superpovoamento de piranhas ferozes se deve ao desaparecimento de seus predadores naturais.
Outros estudiosos desenvolvem argumentos de prudência. Ninguém sabe exatamente as conseqüências da destruição da biodiversidade para o futuro da vida no planeta. Tanto antigas culturas, como cientistas atuais consideram a Terra como um único organismo vivo. Derrubar uma árvore é como cortar o braço de um ser vivo.
Para quem opta por um caminho espiritual, seja no seguimento de alguma religião, seja mesmo fora das tradições religiosas, essas razões utilitárias e de prudência não bastam. Como humanidade, temos uma missão ética de defender a vida e a comunhão com a natureza. Se, de alguma forma, cremos em um amor que sustenta o universo, não podemos destruir nenhuma forma de vida, menos ainda por mera ambição de lucro ou por simples desamor. O Manifesto da Ecologia Profunda, coordenado por Arne Naess e George Sassions, começava afirmando: “O bem-estar e o florescimento da vida humana e não humana sobre a Terra são valores em si mesmos. Esses valores são independentes da utilidade do mundo não humano para os fins do ser humano”.
Muitas comunidades indígenas, mesmo quando querem caçar um animal para se alimentar, consultam os espíritos para encontrar o animal com idade suficiente, disponível para o sacrifício. Antes de flechá-lo, pedem licença ao ancestral daquele animal para comer um de seus descendentes e o fazem de modo que a vítima sofra menos. Hoje, aumenta cada dia, o número das pessoas que, não apenas por razões de saúde ou de higiene, mas por motivos humanitários se abstém de alimentos de origem animal.
Ao adorar a Deus, fonte da vida, ou a suas manifestações da natureza, quase todas as tradições espirituais estão reverenciando a vida. Elas nos convidam a uma relação de carinho com toda criatura e a uma atitude de agradecimento ao Espírito Divino por fazermos parte desta grande comunidade da vida.