Dannie Oliveira 20 de janeiro de 2010


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Acordou meio zonza, vestida naquela bata azul deitada numa cama. Tentou se situar. Alguma coisa tinha acontecido com ela. Piscou. Piscou. Piscou. A luz branca do alto inundava seus olhos recém abertos. Deduziu que era um hospital pelas paredes claras. Tinha certeza disso. Tentou se levantar, mas sentiu o corpo pesado demais e dolorido. Concluiu que algo havia mudado.
Virou a cabeça lentamente para o lado. Pode ver melhor o espaço em que estava. Uma sala, três leitos a esquerda vazios, um a direita ocupado. Ocupado? Sim! Um homem de pouco mais de 26 anos. Bonito. Ficou animada ao ver que até ali podia ver seres bem apessoados do sexo oposto. Mas lembrou-se de repente que poderia estar completamente desarrumada. Passou a mão pelos cabelos e sentiu os fios emaranhados.
– Ah não! – Falou.
O rapaz ao lado abriu os olhos e fixou-se nela.
– O que você disse? – Perguntou confuso e surpreso.
Ela ficou desconcertada.
– Oi … desculpa. Não disse nada. Perdão. Acordei você.
– Não, não. Pode ficar tranqüila. Está tudo bem?
– Por quê?
– Não a conheço, mas não precisa muito para perceber que você não está com uma cara muito boa.
– Mesmo? – Questionou um tanto assustada.
– Sim. Está sentindo dor? Está tudo bem com a cirurgia?
– Cirurgia? – Perguntou um tanto perplexa.
Ele percebeu que ela ainda estava se situando com os novos acontecimentos.
– Isso. Se você está nesta sala é porque passou por algum procedimento cirúrgico.
Ela ficou muda. Sem reação. As coisas começavam a se encaixar. Fazia pouco tempo que descobrira que estava doente. Que ia ter que ser operada. Tudo isso depois de uma visita rotineira ao médico, daquelas sem compromisso.
– Já pensou em levantar o lençol? Tipo olhar debaixo da bata?
Ela se mexeu um pouco. Levantou o pano com o braço que não estava o soro. Não viu grandes coisas.
– Tive uma idéia melhor. – Interrompeu ele ao ver todo o embaraço dela. – Vou olhar sua ficha.
Ele levantou-se e de um pulo estava ao lado dela no leito.
– Apendicite. Isso é chato.
– Você já foi operado?
– Já. Mas foi há muito tempo. Hoje estou bem. – Respondeu ele.
– Entendi.
– Mas fique tranqüila, vai dar tudo certo. O pessoal daqui é bem legal.
– Só espero que o médico tenha feito um bom serviço. Espero que não tenha sido um desses malvados que só fazem abrir e fechar. Que tenha deixado uns pontos bonitinhos, afinal barriga é barriga. Não quero viver complexada com uma cicatriz enormeeee.
Ele sorriu.
– Você é meio dramática.
Ela ficou sem jeito.
– Não sou. Só me preocupo um pouco com estética.
– Vaidosa?
– Um pouco.
– Você quer o quê? Médicos não fazem milagres, apenas trabalham para deixar as pessoas melhores e saudáveis.
– Eu nem sei quem me operou. Vai que é um açougueiro.
– Não sabe? – Perguntou ele curioso.
– Não. Eu estava em casa e de repente vim parar aqui. Sabia que ia ser operada, mas ainda estava organizando tudo ainda. Agora acordo e tcharam! Já estou no hospital.
– Compreendo. Mas relaxe. Você ainda está se recuperando. Aposto que seus pontos estão bem pequenininhos. Três. Super discretos.
– Tomará! Se não eu vou atrás desse médico!
Ele esboçou um sorriso sem graça.
– O que vai fazer?
– Não sei ainda, mas com raiva não sou uma pessoa muito agradável.
– Vai pular no pescoço dele? – Questionou o rapaz.
– Não sei ainda.
Silêncio.
– Vai ver ele é um médico bom, não esse aí … malvado como você está pensando. – Continuou.
– Quem sabe.
– Sabia quem existem médicos bem legais? Que cuidam dos pacientes e se preocupam com eles independente se estão pagando ou não. Ah e quem fazem um ótimo trabalho?
– Me apresente um. – Pediu ela irônica.
Uma enfermeira entrou na sala e interrompeu a conversa. Aproximou-se do rapaz e disse algo tão baixo pra ele, que a moça na outra cama não pode ouvir.
– Bem. Agora tenho que ir. Acabou meu horário de descanso. Tenho que operar outra paciente.
– Operar?
– Você vai ficar bem. Sua cirurgia foi tranqüila. – Finalizou ele sorrindo parado em frente à porta – Afinal eu sou médico e tenho que trabalhar direitinho para não deixar uma cicatriz enormeeee na paciente. Vai que ela fica complexada …

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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