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Canonizar na Igreja Católica, significa poder incluir alguém na lista, no “cânon” dos santos, isto é, alguém poder ser apresentado como um modelo da fé cristã. Claro que há várias etapas que precedem esse momento. Há mesmo um processo de julgamento da vida daquela pessoa em foco. Há santos que foram logo aclamados pelo povo e reconhecidos naquela dignidade – St° Antônio foi um deles. Todos ainda nos lembramos da missa de sepultamento do Papa João Paulo II na qual, na Praça de S. Pedro, viam-se faixas escritas com o desejo do povo :”santo súbito”, isto é, que seja logo proclamado como santo.

Com relação ao Papa Pio XII, que governou a Igreja num período particularmente crítico, isto é, durante a Segunda Guerra Mundial, há um processo aberto no Vaticano. Mas o Papa Bento XVI desacelerou com muita prudência aquele dossiê que já estava praticamente encerrado.

Na verdade, pesa sobre Pio XII a censura de não ter se empenhado na defesa do judeus durante a Guerra.O Papa havia sido Secretário de Estado do Vaticano, que é uma função que corresponde a Primeiro Ministro. Quando morre o seu antecessor, em 10 de fevereiro de 1939, o Cardeal Pacelli foi logo eleito Papa com o nome de Pio XII. E ele fez a escolha de uma estrita neutralidade. De uma parte ele não queria comprometer a situação dos católicos nos países invadidos. De outro lado, ele queria preservar o Vaticano para poder oferecer sua medição em da favor da paz. Ele não cessou de convocar as autoridades aos princípios morais para uma ordem internacional. Mas, na verdade, ele se perfila mais por uma linha diplomática que por uma palavra profética.No começo da Guerra, a Rádio Vaticana encoraja os países ocupados na sua vontade de resistência. Diante das ameaças de Hitler, Pio XII pede (ordena?) a essa estação de se alinhar pelas emissões religiosas. Mas o mundo esperava que o Vaticano falasse. Pio XII, entretanto, considerava que o melhor seria deixar aos episcopados locais que emitissem suas opiniões, uma vez que eles estavam vivendo cada realidade concreta. Houve ação direta da Santa Sé, no sentido de salvar milhares de vidas, sobretudo dos judeus. Mas o silêncio público dele, em face do extermínio sistemático dos judeus pesará fortemente na memória social que via nele um Papa portador de grandes escrúpulos.

O escritor Sérgio Correa da Costa, no seu livro “O nazismo na América do Sul”, evoca as “rotas dos conventos” que após a morte de Hitler permitiram que criminosos nazistas, “colaboradores” franceses fugissem da Alemanha e se escondessem na América latina, até no Brasil. Correa não cita nominalmente o Papa Pio XII, mas não esconde a cumplicidade do Vaticano nesse “affaire”.

Alguns especialistas em canonizações, imputam ao Papa João Paulo II um caráter impulsivo nesse assunto. Alguns dizem que ele “adorava canonizar”. Durante o seu pontificado houve cerca de 483 canonizações e 1.342 beatificações, que é o estágio que precede, às canonizações.

Bento XVI é um homem circunspecto e ele age cercado por uma cortina diplomática. Diz-se que o Vaticano está preocupado em pacificar as suas relações com o Estado de Israel. E falar em Israel é falar no Holocausto. Salvar as relações Roma- Jerusalém é fator de mais paz para o Oriente Médio.

Mas essas atitudes de prudência não significam que um dia o Pio XII não seja elevado às honras do altar. Mas o que Bento XVI pediu aos prelados especialistas é que façam um trabalho de um “profissionalismo irrepreensível”.

A História não falha, ela é um registro indiscutível . Por isso mesmo, sabe-se que esse processo de canonização será sempre muito difícil. Mas há aspectos da ação, mesmo tímida, de Pio XII, que escapam ao conhecimento do público. Por exemplo, ele teve gestos de uma simpatia singular por alguns Bispos que tiveram uma atitude firme com relação ao regime nazista. Foram eles : Von Preysing, de Berlim e Von Galen de Munster. Mas os demais Bispos alemães não protestaram de forma clara e vigorosa contra o genocídio dos judeus. Havia a Concordata de 1933 que parecia tê-los desarmado ou paralisados a respeito dos direitos humanos. Mas, por outro lado, há relatórios que falam da Igreja na Baviera, eminentemente católica, que mostram que os meios influenciados pela Igreja são os únicos que não aderiram à política nazista.
De qualquer forma, Pio XII teve expressões que ressaltavam a defesa dos judeus. Na rádio-mensagem de 24 de dezembro de 1942 ele diz:” O voto ( de retorno à paz), a humanidade o deve a centenas de milhares de pessoas , que sem nenhuma culpa de sua parte, pelo único fato de sua nacionalidade ou de sua origem étnica, foram levados à morte ou a uma progressiva extinção”. Também ao Colégio dos Cardeais, em 2 de junho de 1943, ele exortou:”Nosso coração responde com uma solicitude voltada aos olhos daqueles que lançam um olhar ansioso, atormentados como eles estão, por causa de sua raça e de sua nacionalidade, por dores as mais penetrantes e abandonados, sem culpa da parte deles, a medidas de exterminação.”

Sebastião Heber. Professor de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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