D. Edvaldo G. Amaral 10 de novembro de 2009


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No ano passado, a opinião pública brasileira esteve chocada pela notícia do assassinato de um casal de origem alemã, pessoas da classe média alta e de estudos, mortos a pauladas por ação de sua filha adolescente, a quem o pai dedicava especial ternura. Outros crimes envolvendo filhos e parentes próximos também abalaram o noticiário nacional.

A jovem assassina dispunha largamente de tudo o que a boa situação financeira de seus genitores podia oferecer-lhe. Seu pai, sobretudo, esmerava-se em proporcionar-lhe com abundância tudo aquilo que ela pudesse imaginar e desejar. De posse do cartão bancário de crédito do pai viajou para Natal, em companhia do chamado namorado, na verdade, seu amante, com quem passou várias noites em hotéis de luxo, às custas da conta bancária paterna. O tal namorado-amante era um rapaz, destituído de toda formaçao intelectual, humana e moral, que os pais se negavam a consentir em ter por genro. Ambos, a jovem e o amante, planejaram a eliminação dos pais (pai e mãe), pensando infantilmente de se apoderarem com facilidade da herança paterna e poderem assim usufruir livremente dela para seus prazeres e ócios.

Diante de fatos dessa natureza, fica-nos a interrogação: “Pode-se educar, satisfazendo todas as vontades dos filhos, ou é necessário saber dizer NÃO em certas circunstâncias?” Parece-me que o que está faltando é exatamente isso: saber impor certo limite às concessões que os pais fazem aos filhos, sobretudo adolescentes, sobretudo de classes de maior poder aqusitivo.

A revista “Encontro” do célebre Colégio Sion do Rio publicou recentemente interessante artigo da Professora Tânia Zagury, Mestre em Educação e autora de vários livros de pedagogia, sob o sugestivo título “A difícil arte de dizer NÃO aos filhos”.

“É difícil negar coisas a criaturinhas tão fofas e sedutoras quanto os nossos filhos se temos o dinheiro necessário para comprarmos tudo o que eles querem, por que não satisfazê-los? Além do mais é tão mais fácil e mais agradável sermos “bonzinhos”…O problema é que ser Pai é muito mais do que ser apenas “bonzinho”. Ser Pai é ter uma responsabilidade social perante o futuro de nossos filhos e a sociedade. Quando decido negar um carrinho a um filho, porque ele já tem uns dez ou vinte, mesmo podendo comprar mais um e sofrendo por dizer-lhe NÃO, estou lhe ensinando que existe um limite para o ter. E, ainda mais, estou indiretamente valorizando o ser. Se cedemos a todas as reivindicações de nosso filho, estamos mostrando o que desejamos que ele seja na vida: uma pessoa que não aceita limites e não respeita os direitos dos outros. Como ele poderá como adulto aceitar qualquer derrota se não lhe fizeram crer que isso é possível e até normal?”

“ É preciso criar em nosso filho – continua a Prof.ª Zagury – o reconhecimento realista que na vida às vezes se ganha e, em outras, se perde. Para fazer com que um indivíduo seja um lutador e um ganhador, é preciso que, desde cedo, ele aprenda a lutar pelo que deseja sim, mas com suas próprias armas e recursos, e não esperando que alguém (os pais, por exemplo) lhe dará tudo e sempre, e de mão beijada.”

Em resumo: acho que a educação deve incutir no jovem o espírito de luta, que só se consegue pela consciência do limite imposto pelas vicissitudes da vida e para as quais a educação deve formar o jovem.

(*) É Arcebispo emérito de Maceió
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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