Há um jornal que é fruto do contato com as pessoas que moram na rua. Ele é um sinal de progresso e libertação e se chama “Aurora de Rua – o jornal que nasce da rua”. Encontramos seus vendedores nas portas das igrejas, eles que são remanescentes das ruas e agora , libertos das conseqüências daquele estado de vida, são veículos de libertação através desse pequeno jornal.

O Editorial do último número – outubro e novembro – lembra que o Censo Nacional dos Moradores de Rua, realizado pelo governo federal em 2008, comprova uma triste e perversa realidade: a causa primeira que leva as pessoas às ruas é a dependência química e o alcoolismo.

Esse tema foi tratado no número atual – outubro e novembro – e por sugestão dos próprios vendedores, pois muitos deles vieram dessa dura realidade, e outros ainda lutam contra ela.

Alem de ter uma equipe que dá suporte a esse jornal, integra essa equipe o conhecido Irmão Henrique, que notabilizou-se por esse apostolado singular, isto é, viver no meio dos mendigos e pessoas de rua.

Há um artigo intitulado “Nós, dependentes químicos, somos pássaros de uma asa só”. É uma entrevista com Marcos Antonio que abriu uma Casa em Tucano, denominada de Associação de Reinserção do Indivíduo Ébrio à Sociedade (Áries). Ele é ex-alcoólatra. Nessa entrevista ele conta histórias singulares de recuperação provindas de uma vida simples, dotada de espiritualidade e partilhas.À pergunta ”O que levou você a abrir uma Casa de Recuperação?”, ele responde :”Nós dependentes de álcool, somos pássaros de uma asa só. Precisamos encostar um no outro para poder voar. Quando ajudo alguém também estou sendo ajudado, porque me vejo naquele bêbado jogado na rua”. E mostra que esse trabalho começou a partir do interesse de lutar contra essa doença, para atender aqueles que não têm condições financeiras, mas que têm o desejo de alcançar a sobriedade. E a mensagem final dele é de estímulo e perseverança para os que ainda não alcançaram a sobriedade:”Que não desista. Tente várias vezes. Mesmo que você caia, tente levantar. Procure ajuda, reuniões de Alcoólicos Anônimos, algum centro de recuperação, só não se entregue”.

Uma outra matéria de destaque intitula-se “Uma doença que não é anônima”- é um texto coletivo, isto, foram ouvidos várias pessoas envolvidas com esse problema. Trata-se da dependência química e que é uma das principais razões que leva as pessoas às ruas e um dos motivos para a dificuldade de ressocialização dessa população. Encontrar moradores de rua entorpecidos pelas drogas e deitados pelas calçadas, já faz parte do cenário cotidiano. São pessoas marcadas por um estigma que dificulta a aproximação. Julgados pela dependência química, eles têm sua imagem associada à figura de vagabundo, de perigoso e de coitado. “Bebemos para aliviar a fome e as dores da alma”.O perfil desses usuários que moram nas ruas difere daqueles que possuem o apoio da família. “Drogar-se é sempre uma forma de estar aprisionado, só que as nossas correntes são as da exclusão. Em casa eu tenho o apoio dos parentes e amigos.E nas ruas, eu procuro quem?”

O jornal também oferece vários direcionamentos para o tratamento do alcoolismo e das drogas. Há em Salvador um grupo, intitulado de Despertar, que é direcionado para a população de rua e que tem como único requisito o desejo de parar de beber (Erro! A referência de hiperlink não é válida. um outro que se chama Milagres (www.na.org.br) e que trabalha para manter os laços entre os adictos para que possam encontrar esperança e recuperação. Há também a indicação da Fazenda Esperança ( www.fazenda.org.br)para os dependentes químicos. Lá eles encontram a recuperação a partir de três pilares: espiritualidade,convivência e trabalho.Ler o Evangelho torna-se uma prática diária dos recuperantes que, todos os dias, recebem a mesma missão: escolher uma Palavra e concretizá-la. E como todos sabem que no coração de irmã Dulce há lugar para todos, lá, nas suas Obras, há o CATA, Centro de Acolhimento e Tratamento de Alcoolistas.

No artigo de Irmão Henrique, na Coluna “Deus na Rua”, ele lembra que “Deus espera… espera porque confia… que sempre a hora pode chegar, que enquanto uma porta permanece aberta nenhum caminho é totalmente fechado”.

Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu, Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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