Rômulo Viana 13 de outubro de 2009


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Antes que caia o leitor no abismo dos pré-julgamentos, da certeza tida pela leitura do titulo do texto, advirto você leitor amigo: se a expressão última lhe lembra um velho amigo, peço que fique só para você a lembrança, até porque, não tratarei aqui de memórias, mas sim de uma única queixa sobre um único pedido, aquele que não atendido jamais se saberá qual homem o foi…

Confesso! Fiquei profundamente decepcionado com o meu velório. Sim! Depois de morto fui mais um que se enchia do cafezinho de graça, dos biscoitos comidos sem permissão do dono, ou melhor, do defunto; das fofocas colocadas em dias, e daquelas conversas que pela ocasião do momento são sempre lembradas:
-Lembra do João?
– O da Maria?
– Esse mesmo. E não é que ele morreu do mesmo jeito…
Ainda vivo ficava imaginando como seria o meu velório, o meu enterro e para tanto, previne-me com tempo. Não, não… Eu não providenciei plano de saúde desses que quando se morre, a empresa envia de maneira rápida, veloz o caixão e todas aquelas coisas que dão um ar de harmonia perfeita entre o corpo ali exposto e as pessoas chorando copiosamente. O que fiz? Um ensaio prévio; ensaio fúnebre. Mas na hora H… Ou melhor, depois de morto… Decepção!!!
A celebração de exéquias atrasou. Isso porque aquele vigário… Meus notáveis amigos em vida não foram: era final de campeonato. Ah! Dia ruim para morrer. Meus livros e CDs do Raul Seixas foram todos levados por pessoas que nunca vi em vida. E ainda diziam: uma pequena lembrança do amigo finado. Mas em meio a tudo isso a confirmação de que no fim do túnel a esperança existe. E Logo da pessoa menos improvável de conversão: dona verinha. Esta permaneceu fiel ao seu caráter. Em nenhum momento fingiu lágrimas. Dizia todas as ofensas que sempre me dirigia em vida, tudo isso com uma voz firme e uma postura ereta ao pé do caixão. No entanto, coube já no cemitério o ato de tão nobre conversão de dona verinha. Esta após uma ação de graças em favor de minha morte, fez o que ninguém foi capaz. Foi autora de meu último desejo.
Sobre a minha lápide assim a desgraçada inimiga escreveu:
“Aqui jaz um poeta masculino.
Nasceu homem e morreu menino”.

Obs: Imagem enviada pelo autor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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