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Razão de sobra tem a sabedoria popular quando diz: ”O mundo dá muitas voltas”…

Isso acontece também na Igreja. Temos agora exemplo frisante dessa verdade. A figura controvertida do Pe. Cícero Romão Batista do Juazeiro, execrada pela Autoridade diocesana, volta agora à admiração e ao estudo dos especialistas no assunto por mão de quem, adivinhem? O próprio Sr. Bispo do Crato, Dom Fernando Panico, especialista em liturgia e religiosidade popular. Numa recente Carta Pastoral, datada de 2 de fevereiro último, publicada com algum atraso em virtude de um leve acidente que o Sr. Bispo sofreu, ele coloca dois pontos em consideração: “O propósito de encorajar e apoiar um novo estudo crítico sobre o Padre Cícero, considerando tudo o que acontece em nossa diocese por causa dele e, em particular modo, as romarias.” Diz ainda: “Como ação concreta nesse sentido, realizamos uma série de reuniões com estudiosos, que se debruçaram na releitura dos documentos e textos produzidos ao longo dos últimos anos, acerca do Padre Cícero e do fenômeno das romarias em Juazeiro do Norte.”

No frontispício da citada Carta pastoral, lê-se a citação de uma frase incisiva do Padre Cícero sobre as romarias: ”Juazeiro tem sido um refúgio dos náufragos da vida. Tem gente de toda parte, que, modestamente, vem abrigar-se debaixo da proteção da Santíssima Virgem.”

O processo do estudo empreendido sobre a figura do Patriarca do Juazeiro é chamado pelo Bispo do Crato de “Reconciliação na Igreja, pela Igreja e com a Igreja” e afirma categoricamente, usando comparação arrojada : “Ao aprofundarmos o conhecimento da história e obra do Padre Cícero, a Diocese do Crato está tomando consciência de que, em sua missão pastoral, há de se reconciliar com o testemunho da vida do homem e sacerdote Cícero Romão Batista, que como Jesus (!) e seus discípulos foi, é e será sempre sinal de contradição” (Ver Lc 2,34).

Dom Panico constituiu uma comissão com a colaboração do setor de Cultura da CNBB, cujo trabalho não tem prazo limite e foi ratificada pelo clero da diocese, reconhecendo a necessidade de momentos de estudo e aprofundamento sobre a ação da Igreja no acolhimento aos romeiros. O Bispo afirma que, além dos estudos, é preciso reforçar as práticas pastorais, exprimindo a ternura e o carinho maternais da Igreja, sentimentos amorosos do Coração de Cristo, que nos apresenta a reconciliação como uma atitude permanente do cristão. O Pastor da Igreja do Crato convida seu povo a ousar passos mais largos, a ser humildes, com a capacidade de vislumbrar o horizonte e assumir as falhas humanas no apego ferrenho a uma tradição, que ele chama mais eclesiástica do que eclesial.

Depois da referência aos estudos sobre o Padre Cícero, a Carta Pastoral se delonga em três capítulos sobre o fenômeno pastoral constituído pelas romarias. Diz ele: “As romarias em Juazeiro, particularmente no círculo das festas de setembro (N. Sra. das Dores), novembro (Dia de Finados) e fevereiro (romaria de N.Sra. das Candeias), deixam emergir os sentimentos mais profundos e arraigados no coração dos romeiros e romeiras. O mistério da comunhão na dor aponta para a comunhão na esperança e na crença em uma civilização do amor.”

Tudo isso parece a perfeita realização das palavras do “padrinho Padre Cícero”: “A própria Igreja fará a minha defesa”.

Com as bênçãos do bispo Dom Fernando Panico, os Salesianos, herdeiros das iniciativas pastorais em favor do povo humilde e simples das romarias e dos propósitos de evangelização do Padre Cícero, muito mais do que de seus bens materiais, estão hoje construindo no chamado Horto um belíssimo Santuário, dedicado ao Senhor Bom Jesus do Horto. Terá a capacidade de acolher na praça fronteiriça cerca de 10.000 romeiros, que acorrerão ao Juazeiro, cumprindo o que o santo Patriarca deixou escrito em seu testamento: “Estou certo que todos os romeiros, aqui domiciliados ou de pontos distantes, como prova de estima e amizade a mim e em louvor e honra à Virgem Mãe de Deus, continuarão a freqüentar este amado Juazeiro, com a mesma assiduidade e auxiliarão aos beneméritos Padres Salesianos, como se fosse a mim próprio, para manutenção aqui da sua obra de caridade cristã.”

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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