14 de outubro de 2009
teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
E que se calem todas as Cassandras de plantão. E todos os pessimistas. E todas as aves de mau agouro. E todos e todas que torciam para dar errado. E os que esfregavam as mãos e insidiosamente sussurravam: “Não emplaca”!
Se o coração funciona em harmonioso movimento de sístole e diástole, que bate e rebate; que pulsa e recolhe; que envia o sangue e o redistribui por todo o corpo; na sexta-feira, 2 de outubro, ele fez isso a partir do Rio, cidade maravilhosa, para todo esse imenso corpo que é o Brasil, a partir das 13h30, hora de Brasília, quando desde a Dinamarca veio o anúncio de que a Olimpíada de 2016 é nossa.
Quem não se lembra onde estava naquele momento? Eu me lembro. E nunca esquecerei. Almoçando com as secretárias do departamento da PUC-Rio, em atrasada comemoração de seu dia. Deixamos para sexta para não atrapalhar o ocupadíssimo expediente desses dias. Ao chegar já as encontrei agitadas, com os celulares a mil, perguntando às mesas vizinhas se tinham alguma notícia. Mal conseguiam conversar.
Ao ouvir a notícia de que Chicago estava fora e só restávamos nós e Madrid, senti interiormente que era nossa a vitória. Mas não disse nada. A frustração depois de um “já ganhou” prematuro é bem conhecida nossa. Mastigamos essa erva amarga em muitas ocasiões: na Copa de 1982, na eleição de 1989 etc, etc. Melhor calar…e aguardar. Valeu a pena.
Ao ouvir o primeiro grito, o coração disparou em uníssono com o de todos os cariocas. Cidade Maravilhosa, coração do meu Brasil! Enfim, chegou tua hora! Sede das Olimpíadas. Enfim, vão olhar novamente para ti, não com inveja, não com olhar enviesado e destrutivo. Não com torcida invertida e desejando gol contra. Enfim, vão investir em tua infraestrutura. Enfim – assim esperamos – vais ter o que mereces. Teu povo terá emprego, metrô, trem, transporte, mais segurança. E, o que é mais importante: já tem esperança, alegria.
Como necessitávamos disso depois de tanto baixo astral. Depois de tanta violência, tanta morte, tanta matança, tanto desprezo. Como ansiávamos ver nossa bandeira hasteada alto. Como nossa estrela precisava de novo brilhar nos céus brasileiros e deslumbrar os firmamentos universais. Como, cidade borralheira, tinhas que ser de novo princesa, Cinderela de beleza indisfarçável, deslumbrando o mundo e mostrando que não és apenas balneário decadente, capital do turismo sexual e do tráfico de entorpecentes.
Ao chegarem as mensagens dos amigos verdadeiramente solidários, de Chicago, da Espanha, senti que essa vitória é do bem. Não foi conquistada por revanchismo nem por desejo de vingança. A estrela do presidente Lula, sempre surpreendente, brilhou forte, não solitária nem agressiva. Brilhou amável, acompanhada, secundada e serena. Brilhou e brilha como fruto de um trabalho competente de preparação, conversação, diálogo, conclamação.
Senhoras! Senhores! Admitamos! Nisso ele é mestre! Nisso somos mestres, com a tradição que temos os brasileiros de ganhar até mesmo guerras na mesa de negociações. Acreditamos na conversa, no diálogo, na argumentação. Parece que deu certo também dessa vez, para o esporte, para ser a sede dessa competição que honra nosso país e orgulha nosso povo.
Calem-se as Cassandras e os pessimistas e derrotistas e os que diziam que não daria certo nunca! Ergam-se os últimos patriotas, os que ainda confiam e esperam, os que teimam em acreditar e apostam. Sobre seus ombros, subam os pequenos, as novas gerações que abrirão os deslumbrados olhinhos em 2016, na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Hoje, mais que nunca, até 2016, a Cidade Maravilhosa pulsa como coração do meu, do nosso, do vosso Brasil!
Maria Clara Bingemer é autora de “A Argila e o espírito – ensaios sobre ética, mística e poética” (Ed. Garamond), entre outros livros. wwwusers.rdc.puc-rio.br/agape/
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
busca
autores
biblioteca