D. Edvaldo G. Amaral 20 de outubro de 2009


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Nos tempos da Guerra Fria, falava-se muito na divisão do mundo em dois blocos: Leste e Oeste. O Oeste seriam a URSS e a China, com os povos do bloco soviético e os países que viviam na órbita da União Soviética, como Cuba, Angola e outros.

Daí surgiu na Itália – ao menos foi numa revista italiana que li – um movimento denominado “Consumo Crítico”, que prega um estilo de vida, cujo consumo saiba distinguir entre as necessidades reais e as fictícias, impostas pelos monstros do consumismo e da publicidade.Isto não significa voltar à luz das velas ou lavar a roupa no riacho vizinho – se bem que muitas populações da África ainda o façam hoje.

O Movimento baseia-se no espírito cristão da sobriedade, que levaria a convivência humana a viver quatro imperativos, todos em “erre”, isto é, RESPEITAR, REDUZIR, RECUPERAR e REPARAR.

RESPEITAR é a base dessa escola de pensamento, que ensina o respeito à natureza, aos recursos hídricos e alimentares do planeta, o respeito às pessoas e ao trabalho de todos os homens (o da mulher, do negro, do imigrante), o respeito à terra e aos povos que a ocuparam há milênios, antes que chegassem os conquistadores com suas armas do progresso e da violência.

REDUZIR significa deixar o supérfluo para os que não têm o necessário. Entra aqui o verdadeiro espírito cristão de saber compartilhar o muito que se tem com os que nada têm.

RECUPERAR significa evitar o desperdício. A quantidade de alimentos que se perde Mas já naqueles tempos, líderes de visão internacional, e entre esses quero destacar o nosso Dom Hélder Câmara, já chamavam a atenção de que a verdadeira divisão do Mundo, inconciliável, cada vez mais aprofundada, era Norte e Sul. O Norte, rico, industrializado, e o Sul, sempre mais empobrecido, mero fornecedor de matéria prima Hemisfério e mão-de-obra barata, miserável e faminto. A linha que passa no Trópico de Câncer divide o mundo, de maneira inexorável, entre países ricos cada vez mais ricos e países pobres, cada vez mais pobres, com uma única exceção, a Austrália, desenvolvida com a riqueza de seus imigrantes ingleses.

Segundo os dados oficiais, vivem no Norte 23% da população mundial, que consomem para manter seu estilo de vida 80% dos recursos mundiais. Para o resto da população do globo, isto é, para 77%, restam 20% dos recursos naturais do planeta. São os que vivem em absoluta pobreza. Para que toda a população do globo tivesse o padrão de vida dos países ricos, por exemplo, automóvel, computador, calefação, ar condicionado, etc., seria preciso – dizem os especialistas – seis planetas do tamanho da Terra com recursos para todos, distribuídos, eqüitativamente, diariamente nos Centros de abastecimento (CEASA e similares) das grandes cidades daria para matar a fome de muita gente. Já foi feita uma curiosa pesquisa nos sacos de lixo de Brasília, dos grandes conjuntos habitacionais, e resultou impressionante quantidade de bons alimentos enlatados e objetos de uso em bom estado, que são atirados aos urubus ou disputados pelos miseráveis no lixão.

REPARAR é rever e sanar as injustiças cometidas em séculos, contra os índios, os escravos, os sem-terra e, no âmbito das relações internacionais, com os povos explorados pelas nações chamadas colonizadoras, sobretudo na África e no Sudeste asiático.

Com esses quatro “erres”, implementados e vividos, pelas pessoas e pelos países do chamado 1° Mundo e sobretudo do G-7, grupo dos sete mais ricos, mudaria sensivelmente o panorama do pavoroso desnível entre o Norte dos ricos e o Sul dos pobres.

(*) É arcebispo emérito de Maceió

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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