Dannie Oliveira 27 de outubro de 2009


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Dentro do carro …
– Pára o carro!!!
Ele pisa abruptamente no freio.
– O que foi agora?
Ela revira a bolsa desesperadamente e lança um olhar angustiado para ele.
– Meu celular! Eu esqueci meu celular!
– Eu não acredito que esse drama todo é por causa de um simples telefone.
– Não é um telefone qualquer querido. É o meu c-e-l-u-l-a-r! Entendeu?
Questiona ela.
– E o que têm demais no seu c-e-l-u-l-a-r querida?
– Você esqueceu quem eu sou?
– Claro que não. Você é uma pessoa estressada que não pode viver sem um celular e fica dando piti dentro de um carro a caminho de uma festa. Tá bom pra você?
– Engraçadinho. Diz ela irônica.
O semáforo fica verde.
– Vamos! O sinal abriu. Toca pra casa!
– Eu não acredito que nós vamos voltar porque você esqueceu o telefone.
Francamente não!
– Que mal há nisso? Estamos há duas quadras de casa.
– Depende. Se a festa começou há uma hora e você demorou duas para ficar pronta, sabe lá Deus quanto tempo você não vai demorar para encontrar seu celular. Vamos considerar docinho, você é bem desorganizada.
– Mentira!
– Tá bom então. Onde você deixou seu celular?
– Em casa! Ela berra.
– Isso eu sei fofura. Em que lugar da casa?
Ela fica calada.
– Em que lugar baby?
– Eu não sei!!! Diz ela por fim.
– Está vendo. Se você fosse mais organizada saberia onde deixou seu celular.
– Não amola.
O carro de trás buzina.
– Ei ! pra onde você está indo.
-Pra festa! Para onde mais eu iria?
– A palavra ‘casa’ lhe lembra alguma coisa?
– Querida não vai acabar o mundo se você ficar uma noite sem celular.
Ela fecha a cara.
– Tá certo então. Já que não tem o meu, vai o seu mesmo.- Meu o quê?
– Passa seu celular pra cá.
– Eu não trouxe.– Conta outra. É fruto da minha imaginação esse objeto ai no seu bolso. Diz ela apertando a calça.
– É a carteira querida. Afirma ele.
– Desde quando sua carteira apita quando apertamos ela? Me dá o celular!- Meu celular é um objeto muito íntimo. Muito meu, entende?
Ela dá um sorriso irônico.
– Sei, sei. Muito bonita essa sua explicação, de coisa íntima, agora me dá o celular!Vencido ele tira o celular do bolso. Mas antes de entregar o telefone, ele o retém.
– Pra quem você quer ligar? É pra sua mãe? Eu ligo. Me diz o número que eu te passo quando tiver chamando.
Ela começa a ficar desconfiada. Teria ele outra.
– Amorzinho, eu te amo muito, muito … mas, passa o celular pra cá agora! Grita.
– Eu não vou entregar ! Você não manda em mim. Sua paranóica, desequilibrada.
– Como é que é? Questiona ela.
– É isso aí que você ouviu.
– É assim então?
– Não… É… Não sei… Desculpa.
– Uma semana sem chegar perto de mim.
– Ãh?
– Sem beijo na boca.
Sem massagem.
Sem banho a dois.
– Isso não!
– Sem cereal no café da manhã.
Sem ‘cervejinha’ na hora do futebol.
– Ah, isso não! É covardia! Vamos voltar pra casa!

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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