O Batismo cristão é caracterizado por ser,essencialmente, um nascer para a vida divina. Esse nascimento se realiza através de um gesto humano, isto é, de um banho de água natural em nome de Jesus Cristo ( At.19,1;I Cor. 13,15), ou na fé do Deus Trinitário, o pai, o Filho e o Espírito Santo (I Cor. 6,11 e II Cor. 1,21).

O Batismo não tem, portanto, uma conotação de mera ablução higiênica, não é uma simples limpeza externa do corpo, mas é, simbolicamente, um mergulhar na vida de Cristo, passando da Morte à Ressurreição. O símbolo externo nos transporta a outra dimensão. É assim o primeiro passo dado pela pessoa ao gesto sempre aberto do Pai que convida os filhos a uma íntima comunhão consigo.

O rito cristão faz de qualquer um que o recebe, um “filho de Deus” em sentido especial. Podemos afirmar com a Igreja e a Tradição, que vivem da Palavra do Evangelho, que ele é necessário para nos tornarmos “amigos de Deus” (Tiago 2, 23).

A orientação emanada do episcopado brasileiro concernente ao Novo Rito para o Batismo de Crianças fala-nos dos aspectos essenciais da iniciação cristã ;” Note-se que no roteiro da vida cristã, o sacramento do Batismo é uma etapa normalmente precedida pelas etapas do catecumenato,. Dessa forma, o catecúmeno chega ao sacramento, depois de percorrer os caminhos da conversão à fé.”

Mas, evidentemente, como as crianças não são capazes de realizarem essa trajetória , o texto completa:”Quando se batiza uma criança, o sacramento precede mas não substitui as etapas da iniciação. Nesse caso, admite-se a inversão da ordem, mas não a destruição do processo, através do qual o cristão responde pessoalmente ao dom de Deus e assume sua responsabilidade como membro da Igreja.

O Rito de Iniciação ao Catecumenato de Adultos (RICA) fala do “itinerário espiritual” que, de acordo com a graça de Deus, a pessoa é chamada a percorrer. Os passos são considerados “portas” que o candidato deve atravessar e que correspondem a momentos fortes e densos do processo da iniciação cristã. Essa iniciação aponta para a Páscoa ,isto é, é conseqüência dela e converge para ela, pois é a primeira participação sacramental na Morte e Ressurreição de Cristo.

Sendo batizado, o cristão é enxertado na vida de Cristo, com Ele é juntamente sepultado na morte (Rom. 6,5) e participa da nova vida como co-ressuscitado (Ef.2,5-6). O Batismo, portanto, recorda e realiza o mistério pascal, uma vez que, na sua força, os homens passam da morte do pecado para a vida.

Essa é a razão pela qual a Igreja recomenda e incentiva a celebração do batismo dos adultos na vigília pascal ou que, quando for mudado por razões pastorais, que seja feito no domingo, dia da memória da Páscoa para os cristãos, pois é a ocasião de se manifestar a alegria da Ressurreição.

Podemos dar ao termo “iniciação cristã” uma determinação cristã genérica, certamente a mais conhecida, de “introdução”, “primeira etapa”, “rudimentos” do cristianismo, porem não podemos falar dela como falamos de uma “Introdução à Sociologia”, ou “Iniciação ao Direito”. O termo tem outra conotação e outro alcance.Podemos aludir ao sentido de “Mistério” que evoca a época clássica e faz uma ligação com a Patrística. Os romanos traduzem-no por “initium” o termo grego “misterion”. É justamente desse sentido que o Batismo tira o seu conteúdo fundamental: participação no mistério de cristo, adesão pessoal a ele, incorporação na Igreja e renascimento para uma vida nova.
Iniciação é, pois, termo usado pela história das religiões e fora do contexto religioso. É o termo que designa os vários e complexos ritos que introduzem o indivíduo num clã, numa tribo ou sociedade. Geralmente tais ritos são realizados na adolescência, quando se deixa o mundo da infância para se entrar na vida dos adultos; quando tomam-se responsabilidades na comunidade em vários níveis: no social, no religioso, na vida de guerreiro, entre outros.Os ritos de iniciação indicam um renascimento, na medida em que significam o ultrapassar a soleira da casa para ser introduzido na comunidade adulta como um membro ativo.

Com efeito, não podemos deixar de associar a iniciação cristã às iniciações culturais e religiosas pelas quais passam povos inteiros. Nesse sentido, Mircea Eliade diz que “o Batismo é essencialmente um rito de iniciação” e pode ser considerado um dos raros vestígios dos antigos mistérios de iniciação persistente na sociedade ocidental. Acrescenta o autor.:”Existe entre todas as categorias de iniciação uma espécie de solidariedade estrutural que faz com que, vistas a partir de uma certa perspectiva, todas as iniciações se assemelham”.

Sebastião Heber. Prof. adjunto da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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