D. Demétrio Valentini 14 de outubro de 2009

Algum tempo atrás tive a oportunidade de passar uma semana em Genebra, a convite do ACNUR, o órgão das Nações Unidas encarregado dos refugiados. O assunto envolvia, por extensão, o problema das migrações, e a Pastoral dos Migrantes se fazia presente.

Observando a cidade, alguns detalhes chamavam a atenção. Praças bonitas, ruas limpas, trânsito disciplinado, ausência total de pedintes, tão freqüentes em nossas cidades.

Mas uma coisa estranhava em demasia. Não se via criança alguma, parecia uma cidade só para adultos. Intrigado, perguntei a um cidadão como ele imaginava a Suíça daí a 50 anos.

Percebendo a intenção da pergunta, como resposta simplesmente me fez uma ressalva. Disse ele que, antes de perguntar como será a Suíça, era preciso perguntar de quem seria a Suíça daqui a 50 anos. . Pois, pelo visto, faltariam herdeiros para tanta riqueza que o país ostentava.

Sem crianças não existe futuro, e o presente perde o melhor de suas motivações. Neste dia em que sociedade celebra o dia das crianças, convém pensar na sua importância, e nas salutares interpelações que elas nos fazem.

O assunto merece ser tratado com equilíbrio e responsabilidade. Em sua recente encíclica “Cáritas in Veritate”, sobre a situação mundial, ao abordar a questão do baixo crescimento demográfico, Bento 16 reconhece que “é forçoso prestar atenção a uma procriação responsável”. Ao mesmo tempo, alerta que a drástica diminuição da natalidade revela o que ele identifica como “situações que apresentam sintomas de escassa confiança no futuro e de cansaço moral”.

Em outras palavras, um país com escasso índice de natalidade é sintoma de escassa vitalidade e de pouco futuro.

As estatísticas no Brasil começam a preocupar. No Brasil a diminuição da natalidade foi rápida e drástica, revelando, inclusive, sinais de pressões indevidas e eticamente questionáveis, como as campanhas que redundaram em esterilização em massa de mulheres pobres e inadvertidas das conseqüências da intervenção cirúrgica em que se viam envolvidas.

Pelas recentes informações, o índice de natalidade no Brasil atinge hoje 1.7 por casal, sinalizando, portanto, uma tendência à diminuição da população, que só não se concretiza agora porque o fato vem acompanhado de uma rápida ascensão da média de vida da população. Mas, continuando esta tendência, em 2.035 o Brasil entraria em declínio de sua população, numa triste perspectiva de termos mais óbitos do que nascimentos.

Neste contexto, cresce de significado o Dia das Crianças. Elas merecem bem mais do que um dia. Elas podem nos alertar para uma urgente retomada de motivações e de apoio às famílias, em vista de um salutar estímulo para uma “abertura à vida”, como nos recomenda com insistência a Igreja.

E´ muito sintomático o apreço que Cristo demonstra, no Evangelho, para com as crianças. Continua soando com força seu pedido, e sua advertência: “Deixai vir a mim as crianças, pois delas é o Reino de Deus”.

Cristo sempre fazia apelo para o reencontro dos valores, dos princípios, em vista de critérios a guiarem a vida com coerência. Ele colocava a crianças como referência prática e motivadora da vida. O Dia das Crianças é de festa para elas, e de reflexão para os adultos. Enquanto é tempo, aprendamos as lições que elas nos transmitem, na sua simplicidade, mas também na sua pureza e autenticidade de vida.

(*) (www.diocesedejales.org.br)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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