Paula Barros 1 de setembro de 2009


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Lá no alto, numa chácara distante, de bolas cor-de-rosa com tons amarelados, morava Elizabeth. Diziam que era louca, perversa, talvez. Ninguém a compreendia. Nem ela mesma.

Numa madrugada, de lua que pretendia ser cheia, ela ouvia vozes. O caseiro, Albert, rapaz de cabelos macios, sedosos, brilhosos feito a lua quase cheia, vinha perturbá-la. Da sacada da janela dizia coisas que ela não compreendia, numa linguagem raivosa, facadas perfuravam a mente. Quando questionado, afirmava a que só responderia na segunda-feira.
Era uma madrugada quente de um sábado tedioso.
Interessante demais esse sábado. Muito longe de uma segunda-feira que poderia não vir. Um encontro de loucos ao luar. Elizabeth – a má, era tão perversa, que seria capaz de extinguir todas as segundas-feiras do seu calendário. Jamais ouviria respostas na segunda-feira. Nunca numa segunda-feira. Era má, muito má. A ponto de ficar sem respostas. Faria perguntas todos os dias. Mas detestaria segunda-feira. Ficaria surda nas segundas-feiras e sorriria.
Na chácara, de gente, só eles. O resto, animais. Alguns moribundos. Animais cansados de pensar. Elizabeth e Albert, cansados de serem normais, brincavam de desencontros, responder era um jogo de garfadas, uma forma de se esconderem de si mesmos, preferiam o instinto animal que os aproximava. Lobo em noite de lua cheia ou quase cheia. Com sorrisos de hiena. Elizabeth, chamada carinhosamente por Albert de a louca, sem definição. Definição, esclarecimentos, respostas só na segunda-feira. No íntimo se sentia elogiada.
Somente louca, conseguia conversar com Albert – sábio mau humorado que sorria e – uivava de vez em quando, enquanto a lua crescia. Elizabeth – a má, babava ironicamente, enquanto a segunda-feira não chegava. Trincava os dentes. Não podia falar de amor, nem escrever sobre esse tema abominável.
Nem saudade, nem beijo, nem abraço. Albert ficava irritado quando ela falava sobre esse assuntos tediosos. Elizabeth falava porque não sabia vivê-los. Esperava o amor nas segundas-feiras que nunca chegava. Nem chegaria. Ela baniu as segundas-feiras.
Elizabeth – a má, provocava, adorava gente má. De gente má ela entendia. Tinha má até no sobrenome. Não se assustava com a loucura de Albert . Loucura não se transmite. São acordadas nas madrugadas.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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