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As luzes do cruzeiro iluminavam os caminhos da serra. Seis horas. O sino anunciava o mês de maio. Rosas, muitas rosas, brancas, vermelhas, amarelas. Crianças vestidas de anjo para ofertarem flores a Maria.
A mulher enxugou uma lágrima. As lembranças se acenderam. Junto com as primeiras estrelas a menina voltou, alegre, cheia de histórias para contar, histórias sem pé nem cabeça contadas pela avó que durante horas falava de encantamentos de dormideiras – chás mágicos – de madrastas e príncipes encantados, de homens do tamanho da serra, enquanto, ao pé do fogão, Sinhá Maria adormecia com o gato no colo.
Na igreja prestava atenção a tudo. Não entendia por que as mulheres tinham que assistir à missa com a cabeça coberta e os homens tinham que tirar o chapéu.
Lembrava da mãe rezando, ajoelhada e contrita. Prestava atenção para descobrir o que ela dizia movendo suavemente os lábios. Mais tarde, no colégio, aprendeu que rezar é entrar em comunhão com Deus.
Quando começavam as cantorias todos acompanhavam e era um tal de senta e levanta que cansava e então, a menina se esgueirava e saia aos pinotes para brincar na festa da praça que o padre chamava de profana. Pensava que profano eram as bolas coloridas de todos os tamanhos, cestinhas de papel recheadas com castanhas confeitadas e os caramelos de dona Laura que nunca foram esquecidos.
Quando a missa terminava, e o povo começava a sair da Igreja, voltava correndo para junto da mãe que continuava ajoelhada rezando.
Todas as noites fechavam-se as portas e a ordem era dormir, coisa que detestava. De manhã, quando abria os olhos, sabia que o quintal ainda era o mesmo e a esperava cheio de sol e de surpresas.
Um dia acabou o tempo das folgas pois as crianças só iam para a escola depois que completavam sete anos. Ir para a escola significava crescer, ficar mais sabida, ter responsabilidade. Foi uma animação. A mãe costurava o fardamento cantarolando feliz. Compraram livros, cadernos, lápis, meias e sapatos e uma maletinha para levar o material e o lanche que a avó fazia questão de preparar.
Obs: Texto retirado do livro da autora – Do quintal para o mundo –