Djanira Silva 28 de setembro de 2009


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É preciso que a criança que fomos nunca deixe de existir. Não é apenas os ensinamentos dos adultos que formam nossa personalidade. Na simplicidade e na inocência do que fomos, existe uma semente de sabedoria. Conversando com os animais, observando as plantas, brincando com terra e água, cavamos os alicerces de um mundo real. O amadurecimento estraga a inocência. Tornar-se adulto é abrir com ferro e fogo os caminhos para um outro mundo. Por que não sermos sempre assim, simples como os sonhos leves das traquinices de quem ainda não sabe que é traquinando que se aprende a vida. Não é nas mesas redondas, nas reuniões de cúpula, nos congressos nem no engano de palavras purgantes, escritas para fazerem efeito, que se encontra a verdade e a beleza da vida. Ela está nas pequeninas coisas.

Enquanto trabalho no computador uma formiguinha de um lado para o outro caminha dando contas de uma tarefa que, certamente. lhe foi imposta por sua comunidade. Ela tem uma vida, um destino, um propósito, e, o mais importante, faz parte de um grupo organizado onde todos trabalham, onde todos se preocupam menos consigo do que com os outros. Perco horas espiando o ir e vir de formigas e abelhas, de pássaros ocupados em construir ninhos, onde possam deixar em segurança suas crias. E nós, nós os humanos, os racionais, os cientistas e conhecedores de todos os mistérios da matéria e da vida, o que fazemos? Temos medo uns dos outros. Cada um no seu caminho, preocupado apenas com seus sonhos, sonhos que para realizar, não pensa duas vezes antes de destruir ou atropelar seus semelhantes. Infelizmente, já não confiamos no que vemos, no que percebemos menos ainda no que sentimos. Nossos sentimentos não possuem homogeneidade. Quando crescemos e deixamos de ser crianças, é como se fizéssemos vestibular para a vida. Uma vida que recebemos por empréstimo e que, logo logo nos será tomada. Alguém me diz que estou triste, amargurada, sem esperanças.

Não, eu estou apenas com os pés no chão vendo a realidade em cada canto pelo simples fato de haver recebido a enganosa condição de ser gente, de ter raciocínio. E o que nos traz de bom este raciocínio se não sabemos como administrá-lo? De que nos serve se temos medo do nosso irmão? Somos, atualmente, departamentos estanques. Cada um por si. E isto não é bom porque sozinhos não temos condições para discernir entre o certo e o errado. Precisamos sempre, de orientação e, infelizmente, quando nascemos não trazemos nem cartilha para orientar comportamentos, nem manual de instrução para dizer como devemos agir.
Sentimos falta de um líder que tome o pulso dessa multidão perdida.
A vida, não só perdeu o encanto, perdeu também o valor.
Hoje é coisa banalizada. Mata-se por qualquer motivo e sem ele.
Comparo o nosso país à casa de uma mulher irresponsável que vai para a farra e deixa os filhos indefesos, trancados em casa, alumiados por uma vela acesa. Quando retorna encontra-os mortos, a casa destruída, incendiada. Esta é a nossa novela não das oito, mas de todas as horas, infelizmente, sem final previsto. Nossos governantes fecham a casa e mandam-se em viagens ditas filantrópicas com o intuito de ajudar países carentes esquecendo-se de que os carentes ficaram aqui trancados enquanto o fogo queima o barraco. Nos hospitais faltam leitos, material e pessoal capacitado. Pessoas morrem à míngua, na sua maioria crianças. Por que olhar para fora quando diante dos nossos olhos, o povo clama por ajuda? Os postos de saúde não têm condições de funcionamento. As escolas vão de mal a pior. Enfim, faz-se necessário que se cumpram as normas constitucionais isto é o mínimo que podemos exigir. A quem estou me dirigindo se, na verdade, não temos a quem dar queixa? Não sei se estou certa ou errada. Alguém me corrija, por favor.

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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