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Lembro-me muito bem daquele homenzinho
Saindo todas as manhãs bem cedo de casa,
Passos curtos aligeirados
Rumo ao roçado.
Na sua bagagem uma enxada,
Garrafa com água
E pouca comida na vasilha,
Rotineira farofa,
Companheira fiel de trabalho
E única fonte alimentar.
Comumente só trabalhava um turno
E quando retornava
Vinha ainda mais miúdo
Com seus passos curtos aligeirados
Trazendo consigo
O peso do cansaço em seu rosto curtido.
Mãos grossas, suadas,
Roupa suja,
Um sujo de roçado que nunca sai.
Mas nunca o vi reclamar de cansaço
E sempre após longo banho
Devorava seu almoço tardio com gosto,
Prato farto,
Mas sem arroz e feijão,
Apenas carne de caça ou peixe
E bastante farinha de mandioca,
Item indispensável na mesa cabocla.
Hoje olho aquele homenzinho
Sempre em sua varanda
Descansando da vida enquanto tece sua malhadeira,
Filhos e filhas criados,
Não precisa mais levantar tão cedo
Para o trabalho duro.
Ares de dever cumprido,
Vida tranqüila,
Curtindo sua velhice merecida,
Mas ainda caminha ligeiro,
Só que agora solitário,
Separado de sua enxada,
Da garrafa d’água
E de sua farofa.
Apenas caminha aquele homenzinho
Cheio de vida e ensinamentos
Com seus passos curtos aligeirados
Carregados de felicidade.

(*) Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Graduado Pleno em Pedagogia pela UFPA