Marcelo Barros 11 de agosto de 2009

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Enquanto no Brasil, celebramos a Semana dos Povos Indígenas e o Dia do Índio em abril, a ONU celebrou o Dia das Populações Indígenas neste domingo, 09 de agosto. Como em grande parte do Brasil, é tempo de seca e ocorrem, pelo interior do Brasil, grandes queimadas, muitas vezes, os índios têm uma função salutar de curar a natureza ferida e alcançar do céu, forças para todas as pessoas que trabalham pela paz e pela comunhão com a natureza.

Não podemos esquecer que, nestes dias do inicio de agosto, a humanidade recorda as duas bombas atômicas que o governo dos Estados Unidos jogou sobre as cidades de Hiroshima (06 de agosto de 1945) e Nagazaki (08 de agosto do mesmo ano). Apesar de falar tanto contra o terrorismo e invadir países, acusados de terem armamentos nucleares, nenhum outro povo ou nação fez isso com o mundo. Até hoje, a humanidade sofre as conseqüências desta ferida aberta contra a vida na terra. Foram as pessoas pobres e as populações nativas as que mais sofreram conseqüências da destruição provocada pelos armamentos atômicos que, infelizmente, hoje, parecem balas de festim, comparados com os mísseis nucleares, jogados pelos marines norte-americanos sobre o povo do Iraque e nas águas do Golfo. As guerras de conquista imperial continuam hoje as campanhas do faroeste, da época em que os yankees e soldados norte-americanos invadiam as reservas e massacravam milhares de comanches, sioux, apaches e outros povos indígenas.

Apesar de todas as destruições das quais foram vítimas, a ONU calcula que ainda existam, no mundo, mais de 600 milhões de pessoas que vivem em comunidades tradicionais, conforme seus costumes originais e não se constituem como Estados ou países. Muitas destas comunidades participam da União dos Povos Indígenas.

Por todo o mundo, renasce um interesse pelo que se chama de Xamanismo. Conforme as palavras de Leonardo Boff, no prefácio de um livro do conhecido físico Patrick Druot: “Xamanismo não é um estágio primitivo de religião. É um estado extremamente elaborado de consciência que se encontra em todas as épocas, uma chave preciosa que os seres humanos desenvolveram para compreender o meio ambiente e viver harmonicamente com ele. Mais do que dominar a natureza, o Xamã procura entrar em comunhão com ela. Estabelece um contato com as forças cósmicas e com as energias psíquicas e capta as mensagens de minerais, vegetais, animais e humanos. Percebe a unidade sagrada da realidade nas múltiplas dimensões que vão além das três conhecidas pela nossa experiência empírica. Espírito e realidade complexa se entrelaçam de tal maneira que formam um único continuum”.

Em geral, aqui no Brasil, os índios chamam os fenômenos do Xamanismo de pajelança. Neste tempo de seca, no alto das serras, em algumas regiões do Brasil, rituais secretos procuram refazer a unidade dos diversos reinos e trazer amor à terra ferida.

Comumente, muitas pessoas comuns pensam que são fenômenos extraordinários e especiais. De fato, são, sim, fora do comum, porque o amor é sempre especial. No entanto, a magia de amor com a qual uma mãe acalenta um filho pequeno, o acalma em um momento de dor e o faz dormir é um fenômeno assim. A capacidade de conviver em situações de conflito e encontrar soluções de inclusão social e de justiça para todos tem a mesma raiz xamânica de amor solidário.

Há um mês, na Grécia, aconteceu o seminário internacional Um mundo para todos, que discutiu a “Partilha de boas práticas de inclusão social de jovens com menos oportunidades” e envolvia seis países: Itália, Moçambique, Grécia, Espanha, México e Brasil. Representando cada país, estavam jovens de instituições com reconhecido valor e ações decisivas na inclusão de adolescentes e jovens com vulnerabilidade social: como negros, de países pobres, homossexuais, transexuais, moradores de periferia com necessidades especiais, refugiados e mulheres. Aparentemente, isso nada teria a ver com a sabedoria do Xamanismo. Entretanto, tudo o que ajuda a integrar o universo e nele os diversos elementos que o compõem, principalmente a convivência humana são integrantes de um Xamanismo que vai além das culturas tradicionais.

Um Xamã norte-americano dizia: “Quem aprender a superar as exigências do próprio ego, pode se comunicar com o espírito do universo e servir ao próprio povo, sem distinção de religião ou de raça. Se quiser se aproximar mais do Grande Espírito e se tornar um Xamã natural, desenvolva o auto-respeito, o cuidado com os outros, reequilibre seus conhecimentos e viva em harmonia com as leis da Criação”.

(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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