FILHO DO AXÉ E FILHO DE MARIA

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O relançamento do livro “A festa da Boa Morte e o Icone Ortodoxo da Dormição de Maria” foi abrilhantado pela presença do Dr. Edivaldo Brito, vice-prefeito de Salvador, que proferiu uma palestra com o tema: ”As irmandades como lugares de preservação da identidade e da cultura negra”. A ida do ilustre palestrante foi organizada pelas mãos do seu Chefe de Gabinete, Claudelino Miranda. A sessão foi presidida pela Srª Angélica Sapucaia, Presidente daquela Casa, e o protocolo foi dirigido pelo prof. Adilson Gomes da Silva. Dr. Brito representou um momento áureo nesse lançamento, pois estava particularmente inspirado. Esse é um tema que está no seu sangue. Ele não esconde suas origens, mas, ao contrário, dela se orgulha, e com razão. De origem humilde, Muritiba é a sua terra mater. Nunca deixa de falar na sua mãe, mulher de fé, de matriz afra e que educou os filhos com amor e vigor. Também citou sua tia querida, Mãe Bida, que era integrante da Boa Morte, vindo anualmente do Rio de Janeiro participar das festas de agosto. Lá na sessão da Câmara Municipal estava a famosa professora Iolanda Pereira Gomes, que foi vereadora, diretora do Colégio Estadual e Provedora da Santa Casa . E ela foi alvo da homenagem do conferencista, pois foi sua professora. Ele recordou de quantas vezes desceu a pé de Muritiba para estudar em Cachoeira. Diariamente, subir e descer a serra, e, às vezes, até quatro vezes, quando tinha aula à tarde. E ele não se esqueceu de ninguém que o ajudou na sua formação. Citou até uma família que lhe dava merenda, mingau, nesse vai-e-vem da casa ao colégio.

Sobre o tema apresentado, foi mostrado que as irmandades foram esses lugares privilegiados, como força agregadora para a manutenção das mais puras tradições afras no nosso país e, especialmente, na Bahia. O escravizado negro, arrancado brutalmente de sua terra natal, foi transplantado para um novo habitat, e, de repente, se encontra numa situação de subordinação. Dessa forma, ele se encontrava numa estratificação considerada a mais baixa de todas, ou seja, era incorporado à escravidão, num contexto totalmente diferente, inclusive o da religião. A cultura original do africano era básica e profundamente religiosa, mas do modo como foi levado à força ao trabalho, também foi levado ao cristianismo, sem nenhuma prévia evangelização. Mas a inteligência negra soube adaptar-se a essa nova situação. No final, ele ficou com a religião do branco sem abandonar a própria, como dizem Bastide, Valdemar Valente e Verger. Na verdade, as irmandades e confrarias, foram os grandes suportes para a preservação da cultura negra. Lá os escravizados tinham uma ascensão social, tinham um nome e conservavam a própria identidade.

No seu discurso, o professor Brito citou a senhora Ângela do Gantois ( Iakekerê do Gantois), que falou em seu nome e no de Mãe Carmen, Ialorixá daquele célebre Terreiro, onde o ilustre vice-prefeito é Ogan.

Pe. Sadoc não pode estar presente, mas mandou uma mensagem: ”Marco minha presença espiritual na festa religiosa e intelectual do lançamento desse livro. Abraço muito fraternalmente o amigo Pe. Sebastião Heber, e o parabenizo pela grande aula, a grande lição, levando-nos ao amor de filhos, felicíssimos pelas glórias de nossa Mãe e Mãe de Deus. Abençoados os filhos de Cachoeira onde se revivem a invencibilidade da fé e o patriotismo autêntico. Ao querido Prof. Edivaldo Brito, meus agradecimentos pelos seus permanentes testemunhos de patriotismo e de fé”. Também foram lidas mensagens do Prof. Edivaldo Boaventura, Presidente da Academia de Letras e Diretor do A Tarde, da Profª. Consuelo Pondé de Sena, Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da BA (a Casa da Bahia), do Dr. Antonio Amorim, prefaciador do livro e Diretor do Departamento de Educação da Uneb, (ao qual pertenço), e da Fundação João Fernandes da Cunha. O presidente da Irmandade da Conceição do Monte, Isaac Tito, usou da palavra homenageando o autor em nome da Irmandade do Monte, dos amigos e do povo cachoeirano. Mônica Estela falou em nome dos estudantes da Uneb.

No final houve uma homenagem das irmãs da Boa Morte lá presentes, Ilá Deleci ( do Terreiro Ilê Kodedê), D. Dalva do Samba de Roda Suerdieck (que está inaugurando a sua Casa do Samba que tem seu nome, no dia 27 de setembro) e de D. Dadi que mantém um grupo afro na cidade. Um grande buquê de rosas foi ofertado ao escritor pelas irmãs presentes.
No dia 3 de outubro, o Dr. Edivaldo Brito (dia do seu aniversário) e sua esposa, estarão recebendo o título de Membros da Irmandade da Conceição da Praia, numa Missa presidida pelo Mons. Gaspar Sadoc.

Sebastião Heber. Professor Adjunto de Antropologia da UNEB, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do Instituto Geográfico e Histórico da BA , do Genealógico e da Academia Mater Salvatoris.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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