Neste final de semana a Diocese de Jales completa, exatos, 49 anos de existência. Segundo a boa e ancestral tradição bíblica, o ano seguinte aos 49 é jubileu. Por isto, na romaria deste domingo a Diocese inaugura o seu Ano Jubilar, a ser concluído na romaria de 2.010, no dia 15 de agosto, quando por coincidência será domingo.
As romarias de Jales já se tornaram tradição. Tiveram início no jubileu de prata da Diocese, em 1985. O gesto simbólico, daquela vez, de reimplantar o cruzeiro de fundação da cidade na praça central, ao lado da catedral, tocou fundo nos sentimentos religiosos do povo, e na sua consciência histórica. Foi à sombra dos cruzeiros que todas as cidades desta região foram surgindo. O cruzeiro da sede da Diocese, na cidade de Jales, passou a servir de inspiração para as outras cidades valorizarem o símbolo de sua implantação.
Desta vez, o próprio número da romaria tem caráter jubilar. Com esta, já são 25, desde a primeira, feita para celebrar os 25 anos da diocese.
A Diocese de Jales chega agora aos seus 50 anos. Já é uma medida que traz a marca da história. Neste sentido, a data convida para um olhar mais amplo, e um enquadramento mais exigente.
A Diocese sempre procurou valorizar o simbolismo de suas datas. Sobretudo o fato de ter sido criada por João 23, no ano do anúncio do concílio, em 1959, e no dia 12 de dezembro, dia da padroeira da América Latina. Há muitos recados a cavar destas referências.
Mas agora, o jubileu de 50 anos convida para algumas interrogações mais intrigantes. O que a história fala para a Diocese? Que rumo estão tomando os acontecimentos, olhados pelo arco desses 50 anos? Que é feito, por exemplo, do Concílio, depois de 50 anos do seu alegre e esperançoso anúncio em 1959?. E o que aguarda a Igreja nos próximos 50 anos pela frente?
A sabedoria da tradição bíblica do jubileu nos ensina a conjugar bem o cotidiano, o dia a dia, com a amplidão maior da história. O cotidiano é medido pela semana. A semana se constitui na tradição judaica que mais se arraigou na civilização humana. Medimos o cotidiano de nossa vida pela arco da semana. Sabemos sempre, muito bem, em que dia da semana estamos, mesmo que esqueçamos facilmente o dia do mês.
O jubileu guarda uma estreita ligação com a semana. Afinal, ele resulta de um cálculo baseado na semana. Depois de sete semanas de anos, que dá 49, aparece o número do jubileu, que é o ano 50.
Pois bem, sem perder o chão firme do cotidiano, da semana, um jubileu sempre ensina quanto é importante, a espaços adequados da caminhada, colocar balizas que indiquem o rumo certo, fincar estacas que demarquem o alinhamento, e assinalar bem os passos já dados. Feito isto, dá para prosseguir, com a segurança de manter a direção certa.
Se colocamos mal as balizas, as conseqüências podem ser desastrosas. Cem anos atrás, Por exemplo, o papa era Pio X, agora já declarado santo. Duas dimensões caracterizaram seu pontificado. Incentivou a liturgia, e teve uma firme posição contra a modernidade, num tempo em que a Igreja ainda não estava em condições de acatar os avanços positivos que a modernidade trouxe, para a civilização e a própria Igreja. Pois bem, cem anos depois, depende agora como colocamos as balizas. Pio X pode ser visto como precursor do Concílio, que renovou a liturgia. Mas alguns fazem de suas posições anti modernistas pretexto para desautorizar o Concílio, evocando erroneamente a figura de Pio X para justificar sua mentalidade retrógrada. Quando perdemos o sentido da história, caímos facilmente em precipícios que fazem tropeçar e nos deixam sem horizontes.
Tempo de jubileu é para traçar rumos, e fortalecer a decisão de seguir por eles. E´ o que a Diocese está fazendo, com a definição do seu plano de pastoral. O jubileu denota festa, mas aponta para a responsabilidade.