Paula Barros 14 de julho de 2009

 

Comecei a caminhada e fui juntando palavras pelo caminho como quem coleciona seixos coloridos. Seguia a trilha dia após dia. Se o trem atrasava voltava à estação quantas vezes fosse preciso. Olhava o relógio da Catedral lá no alto, ansiosa. Relia a paisagem pintada nesse trajeto sem fim. Fui fazendo da caminhada um seriado de mim. Os bem-te-vis cantavam alegremente. Eu, inquieta, cantava a cada passo – vem, vem, vem, vem….melodiosamente. Parecia o chiado da cadeira de balanço na varanda.

Com o tempo fui percebendo que seu caminho ia mudando de rumo. Então inverti a estrada. Tive medo de embaralhar a bússola. Na labirintite do meu ser percebi que seu caminho agora é diferente. Fiquei engasgada com a poeira da estrada. Me apoderei de mim, cavalguei as palavras com as rédeas em punho. Risquei a estrada. Esperei baixar a densa nuvem. Observei. Espantada, emocionada e cheia de dúvidas.

Passeando por entre pensamentos e pés de palavras passei na porta da Igreja. Estavas lá. Observei minuciosamente cada músculo de vírgulas e pontos, tentava cheirar o sentimento. Receosa das minhas mal traçadas linhas e dos meus pés andarilhos, cortei caminho. Subi ao monte, não era dos ventos uivantes, nem das oliveiras, era o seu monte de palavras juntas. Por vezes sem sentido para mim, com muito sentido para você, imagino. As vezes penso que também estás sem ver sentido. Sem ver o horizonte que imaginavas alcançar. Vivo entre a fantasia e a realidade. Entre o prazer e culpa. Então comecei a distanciar, a escrever por caminhos desviantes, fazendo percursos intrigantes.

Obs: Foto da autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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