Edilberto Sena 21 de julho de 2009


(
[email protected])


No século XVI os europeus invadiram as Américas e iniciaram o genocídio de milhões de seres humanos e continuaram, enquanto durou a colonização européia nas Américas. No Canadá, nos Estados Unidos da América do Norte, os Astecas no México, Maias na Guatemala, Incas no Peru, Kéxhuas e Ayamaras na Bolívia. No Brasil, os Tupis, os Guaranis, Tupaiús, Boraris e centenas de outros povos neste continente foram esmagados. Incrível, o raciocínio dos invasores, inclusive dos missionários, que se consideravam abençoados pelos Papas e por Deus, com direito a dispor das riquezas e do extermínio dos nativos. Estes eram os entraves à conquista, mortos como se mata serpente, ou onça.
Mais incrível o que fez Getúlio Vargas ao oficializar a colonização do Mato Grosso, doando as terras dos Guaranis a colonos forasteiros. Tal aberração aconteceu quando já existia um cidadão civilizado, o Marechal Rondon, que afirmava – “antes morrer do que matar um índio”. Por causa desta prepotência da era getuliana, recomeçou o genocídio dos Guaranis que escaparam da primeira. Ela continua ainda hoje, pois os fazendeiros, herdeiros dos primeiros invasores da era getuliana continuam a perseguir, matar e explorar os povos Guaranis.
Fazendas imensas ocupam as terras dos ancestrais. Os povos guaranis estão vivendo hoje como gado em currais de terras, sem floresta e sem água limpa, os pequenos lotes que lhes sobram das fazendas. Muitos dos poucos que ainda existem estão morrendo por assassinato e por suicídio. Índios sem floresta e sem rios entram em desespero. Terra para eles é mãe e não propriedade de negócio.
Com a conquista das terras contínuas da Raposa Serra do Sol, pelos indígenas de Roraima, levantou-se a esperança de os povos Guaranis recuperarem as terras que de direito são suas no Mato Grosso, mas estão invadidas pelos fazendeiros. Como respeitar esses direitos , quando os fazendeiros alegam que possuem títulos legítimos do tempo de Getúlio Vargas?

Eis o grande desafio para o governo brasileiro, respeitar quais direitos? Os dos indígenas que têm a cadeia dominial de fato, desde antes da invasão dos portugueses, ou respeitar direitos recentes doados pelo ditador? Se os Macuxis, Wapixanas e seus parentes conquistaram seus direitos em Roraima, nas terras invadidas por arrozeiros, por que os Guaranis do Mato Grosso não têm os mesmos direitos? Se o governo pode indenizar os invasores de Raposa Serra do Sol, por que não pode indenizar os fazendeiros do Mato Grosso? Tudo é questão de respeito aos direitos de quem os têm, como fez, apesar das restrições, o Supremo Tribunal Federal.
Será difícil? Será, pois, os fazendeiros só pensam em seus interesses, mas a justiça deve ser respeitada. E não só lá no Mato Grosso. Ainda há muitos povos indígenas no Brasil que não têm suas terras demarcadas e respeitadas. Fica-se escandalizado com a perversidade dos colonizadores europeus nas Américas, não se pode ter dois pesos e duas medidas, ainda mais quando hoje a sociedade já reconhece a ética, os direitos humanos e justiça. Um governo e uma sociedade coerentes não podem mais retardar a demarcação e homologação de todas as terras indígenas, como manda a constituição, mesmo que tenham que enfrentar as resistências de fazendeiros, mineradores e madeireiros.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]