Padre Beto 14 de julho de 2009


www.padrebeto.com.br


Certa vez, uma mulher recebeu a mensagem de que Deus viria lhe fazer pessoalmente uma visita. Sendo muito religiosa, a senhora não se conteve de tanta alegria por poder receber em sua residência o criador do universo em pessoa. A mulher, então, fez uma ótima faxina na casa, preparou alguns pratos típicos da região, colocou seu melhor vestido e começou a esperar por Deus. Em um certo momento, alguém tocou a campainha. Imediatamente a mulher dirigiu-se à porta com um grande sorriso no rosto, porém, do lado de fora estava um mendigo. “Não, pelo amor de Deus, vai embora!”, disse a mulher, “eu estou aguardando alguém muito importante e não posso receber você agora!” Assim, o mendigo se retirou e a senhora fechou a porta rapidamente. Passado algum tempo, alguém tocou novamente a campainha. Como da primeira vez, a mulher abriu a porta imediatamente. Mas, lá fora se encontrava um vizinho idoso. “De verdade, eu não posso cuidar de você neste momento!”, afirmou aflita a mulher fechando a porta rapidamente no nariz do pobre velho. As horas foram passando até que outra vez tocaram a campainha. A senhora foi novamente ver quem era e estava ali uma criança pobre pedindo algo para comer. A mulher nervosa e balançando a cabeça disse: “Por favor, me deixe em paz! Eu estou aguardando nada menos que o Deus todo poderoso. Eu não posso atendê-lo agora, mas quando Deus chegar, eu irei contar a Ele sobre sua situação e vou pedir que Ele lhe ajude!” A criança foi embora com um sorriso amarelo no rosto. O tempo passou, já era noite e Deus não chegava. A mulher começou então a ficar aborrecida. “Onde estaria Deus?”, lastimava a senhora, “sua visita faria tão bem para mim! Até mesmo minha enxaqueca com certeza desapareceria!” Finalmente, a mulher foi para a cama chateada, frustrada e sozinha.
Se acreditamos que o universo surgiu de um ser superior, se possuímos a fé em um Deus que nos chamou para a vida, possuímos também a vontade de conhecer quem ele é e como este ser se manifesta, qual a sua relação conosco e o que ele espera de nós. Em outras palavras, ao crermos em Deus, possuímos automaticamente em nós um rosto, um semblante, características que dão forma ao Deus que acreditamos. Aqui, porém, se encontra um perigo, pois a partir do momento que possuo uma imagem de Deus, não é mais simplesmente este ser superior que se torna o Deus da minha vida, mas sim a imagem, o semblante que dele possuo. Através da fé em Deus surge também, por conseqüência, um comportamento. A não ser que sejamos hipócritas, ao assumirmos uma fé em um Deus, adquirimos um comportamento em harmonia com a verdade que este Deus nos representa. Em outras palavras, toda a fé em um Deus gera uma determinada ética. No que se refere ao cristianismo, o semblante de Deus é revelado com muita clareza e a melhor definição deste ser superior encontramos na primeira carta de João capítulo 4, versículo 8: “Deus é amor”. Através dela compreendemos o significado de Deus apresentado pelas palavras e pela vida de Jesus Cristo. Quem ama alguém verdadeiramente, seja como pai, mãe, filho, esposo, esposa, namorada, ou como amigo, sabe o quanto nos sentimos incomodados ao ver a infelicidade da pessoa amada. Amar é querer o bem do outro e desejar a vida daquele que amamos. Desta forma, apresenta-se a relação de Deus com os seres humanos. Jesus não somente nos mostra que Deus nos ama, mas também ressalta que permanecemos em Deus através do sentimento de amor. Vivendo seu mandamento, ou seja, amando as pessoas permanecemos em Deus e Deus permanece em nós (Jo 15, 1-8). Ao compreendermos esta verdade de fé entendemos que Deus não faz distinção entre pessoas, mas está em união com elas dependendo de sua disposição em amar. Pedro compreende a abertura de Deus a seus filhos quando percebe sua ação em homens que não eram judeus (At 10, 34). Deus não faz distinção de religião, sexo, nacionalidade, cultura ou classe social. Não importa se a pessoa é católica, evangélica, espírita, umbandista ou até mesmo se a pessoa não consegue compreender a existência de um ser superior que deu origem ao universo. Se esta pessoa possui com sinceridade um bom coração, uma postura solidária diante de todos os seres humanos e ama verdadeiramente aqueles que a circundam, esta pessoa está em Deus e Deus nela. Em uma das parábolas, Jesus não apresenta, como modelo a seguir, um sacerdote ou um levita, mas sim um samaritano, ou seja, um estrangeiro e herege (Lc 10, 29-37). Assim, Jesus deixa claro que encontramos Deus através de nossa prática de vida. Deus não nos escolhe pelo que falamos ou simplesmente por repetirmos verbalmente seu nome, mas por aquilo que está em nosso coração, por aquilo que vivemos realmente. Afinal, “os justos irão para a vida eterna” (Mt. 25, 46).
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]