UM MEMORIAL AO PADRE VOADOR

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O Seminário de Belém de Cachoeira está sendo revitalizado por conta da presença do Santo Frei Antonio Galvão. Lá ele estudou e teve que sair às pressas, por ordem do pai, que, em S. Paulo, estava aflito com a Questão Pombalina, por conta da expulsão dos jesuítas. Mas esse lugar encerra mais história. O Cônego Hélio Villas Boas, Pároco de Cachoeira e Reitor do Santuário de Belém, está organizando um Memorial do Padre Bartolomeu de Gusmão, que lá também estudou. O projeto está recebendo a orientação do Instituo Geográfico e Histórico da Bahia, sob a presidência da Professora Consuelo Pondé de Sena.

Nada mais justo do que a conservação dessa memória. O Padre Voador, como se tornou conhecido , nasceu em Santos, em 1685,de uma grande família de doze membros (seis homens e seis mulheres),teve seus primeiros estudos na própria Capitania de S. Vicente. Mas prosseguiu seus estudos em Belém de Cachoeira, Seminário dos Jesuítas, onde teve início a sua profícua carreira de inventor. Por conta da posição geográfica do seminário, havia grande dificuldade no abastecimento de água , que era captada e transportada em vasos, com grande esforço físico. O jovem inventor se sentiu desafiado com o problema. Inteligentemente planejou um sistema e construiu um maquinismo para levar a água do brejo até o seminário por meio de um cano longo. O invento foi logo testado e aprovado com grande sucesso por todos.

Mas a notoriedade dele vem dos testes que fez com balões. Consta que ao observar uma pequena bola de sabão pairando no ar, ele se inspirara para fazer o seu balão. Terminado o curso em Belém, transferiu-se para Salvador, onde ingressou nos Jesuítas. Foi a Portugal, já conhecido e famoso por conta da inteligência e inventos. Em 1702 retorna a Salvador onde dá entrada na patente para o aparelho que inventara anos atrás: “invento para fazer subir água a toda distância e altura que se quiser levar”, expedida em 23 de março de 1707, por D. João V.

Em 1708, já como padre, Bartolomeu embarcou mais uma vez para Portugal, onde logo se matriculou na Faculdade de Cânones em Coimbra.

Na capital portuguesa ele pediu patente para um “instrumento para se andar pelo ar”, que se revelaria mais tarde pelo que hoje se chama “aeróstato” ou “balão”, licença que foi concedida em 19 de abril de 1709. O fato repercutiu na cidade, em todo o Portugal, espalhando-se até para outros Reinos.

Foram muitas as experiências feitas com balões na frente da Corte. Algumas foram frustradas – o balão pegou fogo, havia medo que as cortinas da sala também se incendiassem. Alcançou grande sucesso quando fez voar seu balão que saiu do Castelo S. Jorge indo pousar no Terreiro do Paço.

A concepção e realização do aeróstato de Bartolomeu de Gusmão, mostrou o passo gigantesco que representou sua invenção de onde sairia, mais tarde, a aeronave, sendo ele corretamente considerado como “ o Pai da Aerostação”, tendo precedido em 74 anos os irmãos franceses Montgolfier que voaram em um balão de ar quente em 1783.

Como na vida de outras figuras geniais, a dele foi marcada por contrastes. Além dos seus sermões serem considerados notáveis, foi feito Fidalgo-Capelão da Casa Real, em 1722.
Contudo, intrigas na Corte, levaram-no a cair em desgraça tendo sofrido perseguição por parte da Inquisição.Uma insidiosa campanha de difamação o acusava de simpatizar com os cristãos novos, o que o obrigara a fugir para a Espanha. Lá ele morre em 19 de novembro de 1724, como um simples indigente, recolhido ao Hospital da Misericórdia de Toledo.

O Memorial do Padre Bartolomeu de Gusmão vai reavivar o espírito daquele gênio que viveu nas nossas terras.

Sebastião Heber. Prof. Adjunto da UNEB, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu, do IGHB, do Instituo Genealógico e da Academia Mater Salvatoris.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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