Foi publicada nesta semana a nova encíclica do Papa, com o nome emblemático de “Cáritas in Veritate”, “Caridade na verdade”. E´ a terceira do pontificado de Bento 16, depois da “Deus Cáritas est” , e da “Spe Salvi”.

Veio cercada de muitas expectativas. Anunciada com insistência pelo próprio Papa, esta encíclica de caráter social acabou ligada ao contexto de crise por que passa hoje o mundo. Sua publicação foi adiada em vista desta crise. Sinal de que o seu conteúdo pretende ser a resposta da Igreja, mesmo que seu tema não se limite à crise.

Esta encíclica confirma a marca registrada do pontificado de Bento 16. Sobretudo pela insistência na palavra “Cáritas”, usada em referência toda especial a Deus, o papa teólogo se esmera em colocar um fundamento bem sólido aos temas que ele aborda em suas alocuções. As três encíclicas trazem um raciocínio rigoroso e conseqüente, como desta vez ele o faz, conjugando o relacionamento entre caridade e verdade. Basta conferir uma de suas afirmações mais contundentes, ao afirmar que, sem a verdade, “o amor torna-se recipiente vazio, que se pode encher arbitrariamente. E´ o risco fatal do amor numa cultura sem verdade: acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada, chegando a significar o oposto do que é realmente”.

Outra referência importante para compreender esta nova encíclica social, é o fato de Bento 16 relacioná-la com a Populorum Progressio”, de Paulo VI.. Este dado fornece o contexto deste documento, talvez mais eloqüente do que o próprio texto.

Bento 16 faz questão de se colocar em continuidade com as encíclicas sociais anteriores, entre as quais ele destaca a Populorum Progressio, que ele chega a definir com a “Rerum Novarum” dos tempos atuais.

Assim fazendo, Bento 16 situa sua encíclica num contexto mais amplo, e muito significativo para os dias de hoje. Trata-se da referência ao Concílio, do qual ele fala explicitamente, recordando que a Populorum Progressio nasceu do ambiente conciliar. Como sabemos, a idéia de uma encíclica que abordasse a questão do desenvolvimento nasceu no concílio. Pela premência em concluir logo o concílio, e por não encontrar a convergência suficiente entre os bispos em torno de assuntos tão complexos como os ligados ao desenvolvimento, Paulo VI decidiu assumir o tema em forma de uma encíclica, como de fato ele acabou fazendo logo depois de terminado o concílio, em 1967.

Portanto, retomando a Populorum Progressio, Bento 16 dá um claro recado a todos, de que o Vaticano II ainda está vigente, e permanece como a grande referência não só para os assuntos internos da Igreja, mas também para balizar as posições da Igreja diante dos problemas sociais de hoje.

Percorrendo rapidamente os seus capítulos, percebe-se que Bento 16 abre um leque muito amplo, dentro do qual ele encontra lugar para abordar as complexas questões enfrentadas hoje pelo desenvolvimento, como o meio ambiente, o sistema financeiro mundial, a função do mercado e a presença do Estado na regulação da economia.

Como todos hoje se perguntam pelos caminhos de saída da crise, com certeza esta encíclica do Papa será lida com muita atenção. Vamos aguardar as reações. Abordando questões que evoluem continuamente, como qualquer outra encíclica social, ela não é palavra final de nenhum assunto. Sua função é apontar critérios, e estimular a busca de soluções, que levem em conta o desenvolvimento integral de “todos os homens e do homem todo”, para usar uma expressão de Paulo VI que está tão presente nesta encíclica de Bento 16.

(*) (www.diocesedejales.org.br )

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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