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Preciso pontuar minha vida antes e depois do nada. Entre os dois pontos e as reticências me crucifico. Coloco-me entre aspas e parênteses. A vírgula e o ponto e vírgula me perseguem.
Calculo o tamanho dos meus passos para não cair nos abismos nem nas certezas. Tenho medo de dormir e acordar esquecida do que pensei, do que sonhei. Sempre esqueço. Nunca sei onde estão as coisas já pensadas. Gastas? Mortas? Ou não foram? O pensamento partido, multiplicado, inventa sonhos. Escrava dessa alquimia escrevo e vigio, caminho nas linhas, equilibro-me nos espaços vazios. Seguro as palavras, domino-os, sufoco-as. Feito as crianças elas precisam de controle de freio, dos castigos da pontuação.
Um dia escrevi a história de uma menina que fugiu de casa correu sem parar entrou no mundo pela porta da frente e saiu pela de trás desceu subiu degraus e desapareceu nas curvas dos caminhos sem pontos sem vírgulas sem nada.
Assim quero minha alma, alegre, fugidia, livre e ligeira, passando por todas as portas pulando todos os obstáculos, livre de pontuações.
Preciso apenas dos sinais: atenção pare, siga, ou de linhas paralelas, pare, olhe escute.
Vírgula, indo e voltando. Ponto, afinal!
Obs: Imagem enviada pela autora.