30 de junho de 2009
“Juro! Pelos céus e pela terra, enquanto houver vida em meu ser… Jamais elevarei meus olhos ao infinito para contemplar as estrelas, falar com elas, ouvir seus risos e confidenciar meus segredos. Juro!”.
Gritava Agnes esmurrando algo invisível, como se espancasse um inimigo. Cruel, implacável. Seu destino!?
E o universo atento ouvia seu choro-gemido. Nos céus as estrelas se recolhiam em silêncio apagando uma a uma o seu brilho. Ao longe trovões e relâmpagos anunciavam a tempestade por vir.
Se existissem deuses nos céus como no Olimpo, Réia, Cronos mesmo Zeus ser supremo também na terra, deveriam estar se divertindo, apostando entre si se Agnes suportaria as provas.
Sentia-se o próprio Hércules, naquele momento “Que viessem não apenas doze, mas cem, mil, milhões de trabalhos!”. Por amor aos céus enfrentaria constelações de testes. Sua energia movia-se em direção a um único Criador. Chegaria até Ele, mesmo que precisasse arrastar a terra, e todos os planetas que encontrasse pelo caminho.
Seu pecado primeiro: havia amado as estrelas, conversado com elas.
Em suas madrugadas, sentava-se ao relento para sentir a brisa das noites estreladas beijarem seu rosto, às vezes molhado de lágrimas, outras, adornado pelas gotas de orvalho, finas e brilhantes gotas que desciam do universo, pequeninas estrelas. Imagem rara, mistérios da noite tocando um ser puro e sincero. Numa clássica melodia infinitamente bela. Somente assistida pelos seres celestiais.
Seus pensamentos chegavam aos céus e Agnes falava a língua dos anjos. Cantava louvores ao Criador. Seu coração ardia e o fogo deste Amor, acendia a chama da esperança de que um dia O veria “Face to Face”.
Porém, em algum lugar, estava escrito. – Assim concluiu a razão – Que Agnes teria que provar seu Amor. “Ele coloca a prova aqueles que ama”. Coisas dos deuses.Quando um ser mortal, tenta ultrapassar o Sagrado Portal, ponte que separa as dimensões do existir. Precisa demonstrar seu valor, não há merecimento sem sofrimento. Esta é a regra do jogo.
Depois do paraíso, o Criador criou as provações e viu que era bom! Olhou para Agnes e sorriu o riso do poder. Fazendo-a sentir, que só tem o poder… “Quem tem o conhecimento”. Teoria questionável, porém esta já é uma outra história.
Demonstrando poder, o ser supremo ordenou ao Dragão que resurgisse do reino de Hades, deu-lhe poderes e temidos raios, a besta fera saiu para ameaçar a simples mortal.
Em seguida, escondeu as estrelas de Agnes, enviou-lhe chagas, abriu-lhe os ossos deixando-os expostos. Tocou o seu ser permitindo que humanos tivessem acesso ao seu coração, o cérebro os homens tiveram em suas mãos. Loucura ou razão? Livre arbítrio…
Em noites de sofrimento Agnes queria apenas contemplar as estrelas, suas lágrimas solitárias eram agora gotas do opróbrio e da vergonha, via fugir suas forças, planetas e estrelas. Seu universo de Amor fora invadido pelos buracos negros das provações. E Agnes estava só. Sentia no peito o peso da mão Criadora que lhe negava naquele momento o florir de seu coração. Não era mais um ser.
Na terra, apenas um pedacinho de Lua podia ver refletida na poça de lágrimas, que se formava aos seus pés. A imagem da Lua pequena e indefesa, também sozinha e solitária, fez renascer em Agnes uma nova razão. Via a imagem dançar naquele mar de gotas salgadas, ao ritmo dos pingos que caiam de seus olhos, como se implorasse para que Agnes resistisse as provas dos seres celestiais. E ela resistia.
Bendita imagem da Lua refletida no chão em poça de lágrimas.
Ao final da batalha capturou o dragão devolvendo-o ao seu Criador. Trancou atrás de si as portas do inferno e lançou a chave no abismo de seus pesadelos. Voltou sentindo a vida por um fio. Ironia! Podia ouvir a platéia do outro lado do Portal. Que esperava por vê-la. Estendia-lhe as mãos. Podia visualizar o aglomerado de estrelas, o sol se movia em sua direção. Agnes caminhava rumo ao universo.
Resistência, não mais queria ir. Lembrou-se da solidão, das provas, do jogo. Olhou para o chão e viu o reflexo da Lua. As lágrimas.
E voltou, afastou-se dos seres celestiais. Pensou “Estarão sempre ai… Afinal são seres eternos e apenas imortais, que cumpram suas penas!”.
Jurou! Nunca mais… contemplar as estrelas.
Nas noites, em seu leito de vida, podia ouvir o chamado dos brilhos celestiais. Suas lágrimas, seu rosto, seu canto, já não se ouvia mais no universo. Apagava-se uma estrela que um dia teria ousado contemplar o infinito.
Razão! “Amor não se coloca a prova! Não teria pensado nisto o Criador? Bastava olhar nos olhos, enxergar a alma, reconhecer o dom de sentir e viver. É pelo brilho do olhar que se entra neste portal. Único universo interestelar”. E Agnes escondeu sua voz, os louvores, não falava mais a língua dos anjos, não contemplava mais às estrelas.
Foi quando se ouviu nos céus tremendo alarido, trovões, relâmpagos. Raios riscaram palavras. E escreveu-se no universo:
“SE AGNES NÃO VEM ESTAR COM AS ESTRELAS… MANDAREI UMA ESTRELA SER COM AGNES!!!…
“Reuniram-se os seres celestiais, mandariam uma estrela ser com Agnes. Pensaram nas cadentes, nas do norte, talvez uma dupla, quem sabe a gigante, polar ou do mar, fria ou quente. Pertenceria ao sistema binário, entre a razão e o coração, para “orbitar” Agnes no centro de sua gravidade comum.
Proto-estrela foi a escolha, sua irradiação contagiava e aquecia perdidas ilusões, em seu sorriso trazia a esperança dos deuses, de que pudesse trazer de volta ao universo, o brilho de um olhar-constelação. Cujos sonhos foram um dia ouvidos nos céus, na linguagem celestial.
No dia certo, na hora marcada surgiu Proto, invadiu a vida de Agnes com sua luz angelical iluminando um novo caminho. Entre razões reais em mundos virtuais teria agora que dividir com alguém sua estada na terra. Amor-Amizade explodiu.
Desígnio dos deuses, esperança dos imortais. Agnes voltou a sorrir, na sinceridade de um ser e estar.
Proto confessou-se estrela passageira a caminho do universo. E Agnes encarou seu brilho fora do espaço estelar. Não buscou entender os mistérios celestiais.
Agnes cantou-lhe louvores sem esperar nada em troca. Amou seu brilho, como quem ama o infinito do universo real, de um ser perfeito que sabe vir e ir além.
E a estrela veio a ser com Agnes, por ordem do Criador. Resgate? Castigo? Ambigüidade celestial.
No dia certo, na hora marcada Proto voltará para seu lugar. E a platéia espera do outro lado do portal, que após este dia esta simples mortal, que ousou amar as estrelas, conversar com elas, confidenciar seus segredos, falar a língua dos anjos, contemplar o universo, cantar louvores ao Criador, neste dia ouse ir além… E esqueça seu juramento.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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