Dannie Oliveira 2 de junho de 2009


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Devagar o menino levanta da rede.

Para no meio da casa.

Observa atento a água entrar lentamente pela porta e tocar seus pés.

Logo os pequenos dedinhos são encobertos pelo líquido escuro.

A mãe acorda ao ouvir o fraco ruído da água invadindo o espaço.

Esfrega os olhos e se espanta ao ver a silhueta iluminada pela fraca luz que entra pelas frestas na parede.

Num impulso pega o menino pelos braços e o coloca no fundo da rede.

Ele ainda encantado com o rio que lá de fora passa dentro de sua casa.

A mulher chama o marido que dorme de boca aberta no mais profundo sono.

As lágrimas começam a rolar.

Vêm o desespero.

E o menino continua observando a mãe e por mais que queria não consegue interpretar a expressão em seu rosto.

O homem acorda.

Tenta pensar em uma alternativa para impedir que água destrua seus poucos móveis, em especial seu rádio de pilha.

O pensamento ainda é lento.

São 3 da manhã e o dia anterior foi cansativo.

Depois da pesca ele precisou construir novas pontes e um novo assolho.

O vizinho do lado já tinha ido embora.

A água avançou sobre sua casa e alcançou a cumieira.

Não dava mais para morar ali, mas ele preferiu ficar.

Insistiu.

Agora estava só.

Procurou pela lamparina e a encontrou em cima da mesa, ao lado da vasilha de farinha.

No claro era possível ver que a água continuava avançando dentro da casa.

Enquanto pensava em uma solução a mulher sentada na rede abraçava o filho que observava tudo aquilo encantado.

Sem alternativa decidiu que o melhor era ir embora.

Juntou algumas roupas em uma troucha.

Empurrou a janela.

Pegou a canoa do lado de fora.

Colocou o menino dentro.

Ajudou a mulher subir.

Fechou o pequeno portão.

Começou a remar.

E foi embora no Rio Tapajós iluminado pela noite de luar.

Obs: Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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