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Devagar o menino levanta da rede.
Para no meio da casa.
Observa atento a água entrar lentamente pela porta e tocar seus pés.
Logo os pequenos dedinhos são encobertos pelo líquido escuro.
A mãe acorda ao ouvir o fraco ruído da água invadindo o espaço.
Esfrega os olhos e se espanta ao ver a silhueta iluminada pela fraca luz que entra pelas frestas na parede.
Num impulso pega o menino pelos braços e o coloca no fundo da rede.
Ele ainda encantado com o rio que lá de fora passa dentro de sua casa.
A mulher chama o marido que dorme de boca aberta no mais profundo sono.
As lágrimas começam a rolar.
Vêm o desespero.
E o menino continua observando a mãe e por mais que queria não consegue interpretar a expressão em seu rosto.
O homem acorda.
Tenta pensar em uma alternativa para impedir que água destrua seus poucos móveis, em especial seu rádio de pilha.
O pensamento ainda é lento.
São 3 da manhã e o dia anterior foi cansativo.
Depois da pesca ele precisou construir novas pontes e um novo assolho.
O vizinho do lado já tinha ido embora.
A água avançou sobre sua casa e alcançou a cumieira.
Não dava mais para morar ali, mas ele preferiu ficar.
Insistiu.
Agora estava só.
Procurou pela lamparina e a encontrou em cima da mesa, ao lado da vasilha de farinha.
No claro era possível ver que a água continuava avançando dentro da casa.
Enquanto pensava em uma solução a mulher sentada na rede abraçava o filho que observava tudo aquilo encantado.
Sem alternativa decidiu que o melhor era ir embora.
Juntou algumas roupas em uma troucha.
Empurrou a janela.
Pegou a canoa do lado de fora.
Colocou o menino dentro.
Ajudou a mulher subir.
Fechou o pequeno portão.
Começou a remar.
E foi embora no Rio Tapajós iluminado pela noite de luar.
Obs: Imagem enviada pela autora.