Padre Beto 23 de junho de 2009


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Havia, certa vez, um jovem que estava contagiado por um forte sentimento de tristeza. Não suportando mais a situação, o rapaz resolveu procurar um velho sábio que morava em sua região. O velho, ouvindo as preocupações do jovem, deu-lhe, então, um pequeno conselho: “Você deve hoje mesmo ir ao circo que se encontra em nossa cidade! Com certeza, você irá se divertir assistindo um bom espetáculo. Lá trabalha um palhaço que consegue animar as pessoas e fazê-las voltar para a casa com disposição de viver”. O jovem ficou, então, assustado e, colocando as mãos no rosto, disse desoladamente: “Mestre, esse palhaço sou eu!”
Tudo nos leva a crer que o ser humano nasceu para ser feliz. Todos nós procuramos, de forma consciente ou inconsciente, este estado de satisfação diante da vida. À medida que surgimos na existência iniciamos uma busca de realização de nosso ser e de momentos felizes. Sem dúvida alguma, esta realização pessoal é vivida de forma subjetiva, ou seja, cada ser humano possui a sua forma de sentir-se bem. Porém, Russell nos ensina que a felicidade não é algo que cai na boca como um fruto maduro, mas sim um estado a ser conquistado. Ela depende, em parte, de circunstâncias externas e, em parte, de nossa vida interior. Algumas coisas, escreve o filósofo, são indispensáveis à felicidade da maioria dos seres humanos como alimento, moradia, saúde, trabalho compensador, respeito dos outros, pessoas que nos amem. Mas, o ser humano é feliz a partir do momento que encontra um sentido para sua vida e que descobre sua plenitude em contato com outros seres humanos movidos pelo mesmo ideal. De qualquer forma, ser feliz está diretamente ligado à sensação de prazer. “Não é o que possuímos, mas o que gozamos que nos proporciona a felicidade” (Charles Spurgeon). O prazer é talvez o único aspecto objetivo do ser feliz, aquele ponto de semelhança entre todos os ideais da satisfação humana. Ninguém pode dizer que está feliz se não tiver a sensação do prazer. Mesmo em nossos esforços mais difíceis podemos estar bem, a partir do momento que encontramos nestes esforços um caminho para prazeres futuros. O prazer é a forma sensível, palpável, da felicidade. Sem ele a vida não valeria a pena ser vivida, pois ela se tornaria uma tortura interminável. O Prazer é necessário para o desenvolvimento do ser humano e é em busca de momentos de prazer que enfrentamos outros não muito prazerosos.
Um dos obstáculos mais fortes para a sensação de prazer é, sem dúvida alguma, a dor. Esta, porém, pertence obrigatoriamente à vida. Dizia, certa vez, um amigo: se um dia você se levantar e não sentir dor, pode ter certeza de que você está morto. Sem exageros, a dor está na dinâmica do viver e, muitas vezes, ela se torna necessária principalmente quando vivemos intensamente. “Onde há muito sentimento, há muita dor” (Leonardo da Vinci). Apesar de não prazerosa, a dor, muitas vezes, é benéfica, pois ela nos mostra quase sempre que algo não se desenvolve bem. Ela é um sintoma de que a vida necessita de maiores cuidados ou de mudanças. De qualquer forma é necessária a superação da dor para alcançarmos o prazer. O grande erro, porém, é confundir superação com fuga. A superação da dor se inicia pela compreensão do sofrimento. Para que superemos a dor é necessário encontrarmos a razão de sua existência. Ninguém deve sofrer desnecessariamente. A dor deve possuir uma razão que nos faz compreender melhor a vida e nos ensina uma lição para futuros passos. “O importante é isto: Estar pronto para, a qualquer momento, sacrificar o que somos pelo que podemos vir a ser” (Charles Du Bois). Sem esta compreensão da dor, nunca chegaremos a momentos prazerosos na vida. Ao encararmos o sofrimento como aprendizado superamos automaticamente outra origem da dor: o medo. Muitas vezes sofremos desnecessariamente por termos medo do novo, do desconhecido, do erro diante de uma situação por nós ainda não vivenciada. A partir do momento que nos conscientizamos que a dor é um momento de aprendizagem, compreendemos que o prazer é alcançado à medida que experimentamos o novo com a disposição de aprender. “Você precisa fazer aquilo que pensa que não é capaz de fazer” (Eleanor Roosevelt). Descobrindo seu sentido e perdendo o medo de encará-la, tornamos a dor algo transitório, pois alcançamos um determinado domínio sobre ela. Desta forma, existirão dores em nossa vida que facilmente serão superadas, outras que não irão passar totalmente, mas com certeza não serão obstáculos para o nosso prazer de viver. “Venham até a borda, ele disse. Eles disseram: Nós temos medo. Venham até a borda, ele insistiu. Eles foram. Ele os empurrou… E eles voaram” (Guillaume Apollinaire).
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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