A CNBB, em conjunto com a Misereor, da Alemanha, acaba de realizar um simpósio internacional sobre Mudanças Climáticas e Justiça Social.
A própria realização do simpósio evidencia a gravidade da situação. As duas instituições, promotoras do evento, testemunham a seriedade com que precisamos nos preocupar com os fenômenos relacionados com a vida em nosso planeta. O enfoque do encontro, vinculando situações climáticas com justiça social, denota a indispensável dimensão ética, inerente a todo relacionamento humano com a natureza, da qual fazemos parte, e pela qual precisamos nos sentir responsáveis.
O assunto é muito complexo, pois lida com uma quantidade de dados e situações, que nem de longe conseguimos dominar e esgotar, quando nos defrontamos com o prodígio que é a vida em nosso planeta. Dentro do cosmo, nos sentimos privilegiados, participando da surpreendente complexidade do sistema vital, em que estamos inseridos. Diante dele, a primeira atitude adequada é a da contemplação, do respeito e da admiração, junto com o cuidado pela sua preservação.
Mas é indiscutível que o nosso planeta emite sinais de alerta, que por sua insistência e densidade despertam a consciência ecológica, levando a nos perguntar seriamente pela vinculação das mudanças com a ação humana sobre o planeta.
Esta vinculação se torna mais plausível quando constatamos o aquecimento global em curso, fenômeno que mais preocupa, pois mais traz conseqüências para o sistema vital do planeta.
Um dos fatores que mais possibilita a vida é a adequada temperatura da terra. Para proporcionar esta temperatura, são muito preciosos os gases de efeito estufa, que garantem o calor suficiente para que a vida se propague na terra. Mas quando estes gases aumentam demasiado, provocam conseqüências negativas, advindas do aquecimento exagerado da atmosfera. E aí percebemos com clareza a contribuição da ação humana neste aquecimento exagerado, provocado pela emissão de gases de efeito estufa, provenientes, sobretudo, do uso de combustíveis fósseis e da queima de matas, como acontece no Brasil.
Este aquecimento global pode provocar fenômenos prejudiciais à vida, em proporções que não estamos em condições de mensurar, mas que possuem evidente caráter catastrófico.
Para não achar que estas são fantasias inúteis, é importante constatar algumas situações muito evidentes e preocupantes. A principal delas é o rápido processo de degelo, seja das neves nas altas montanhas, ou das geleiras nos pólos. Isto dá para ver, comparando fotos de um ano para outro.
A rapidez do processo leva a pensar nas inevitáveis conseqüências. A mais evidente é a escassez de água potável, que tem nas geleiras uma fonte muito importante. Muitas regiões dependem da água que desce das geleiras. Se estas acabarem, torna-se inviável a vida e a agricultura em muitas partes do mundo.
Outra conseqüência, mais difícil de visualizar, mas potencialmente mais desastrosa, é o aumento do nível dos mares, por acolherem a água das geleiras, e por se expandirem pela dilatação provocada pelo aumento da temperatura.
Os cientistas se incumbem de fazer os cálculos do tamanho do desastre. Se nos próximos cem anos a temperatura média aumentar em seis graus, o mar subirá um metro, inviabilizando as cidades costeiras. Haveria profundas mudanças climáticas, com enormes desastres ambientais. A floresta amazônica desapareceria, e haveria grandes deslocamentos de regiões climáticas. O café passaria a ser cultivado na Argentina!
De tudo isto, fica uma lição indiscutível e premente: precisamos agir com responsabilidade ambiental. Dotados de capacidade para intervir na natureza, devemos fazê-lo em sintonia com seu processo vital. Esta a vocação humana. Se contribuímos para o desequilíbrio do planeta, somos agora interpelados a colaborar para a recuperação de seu sistema vital, antes que seja tarde demais.
(*) (www.diocesedejales.org.br)