Aprendi a desbravar sonhos…
Colhi faíscas da ventania,
dissequei o pensamento em um momento inusitado de ser…
Mergulhei em incertezas e melancolia,
desviei o percurso silencioso,
tentei evitar a explosão do coração…
Aprendi a contemplar o poder e o desafio da perda irreparável da paz,
a ternura do olhar e o aconchego da caminhada partilhada…
Senti o acalanto da solidão,
a expectativa do inesperado,
o minuto da partida,
farpas da indiferença…
Aprendi a adormecer os projetos rascunhados e embriagados,
modelar o perfil inacabado da paixão…
Bebi os pingos da nostalgia deitado no tapete insano da saudade…
Busquei no intervalo da melodia ensombrada desejos de versos soltos e fugidios…
Aprendi no equilíbrio da alma deixar-me ser e acontecer…
Esculpi a tua face no vazio da esperança…
Derramei no abismo paisagens amarrotadas,
folhas amareladas e pisadas…
Aprendi que o amor reparte e acrescenta…
Esperei o tempo parar ou desabar,
o momento exato de tomar as tuas mãos,
ouvir a tua voz., decifrar o teu soluço,
regar a tua sede e não mais mastigar dissabores e atropelos…
Aprendi a sabedoria do amargo no percurso interrompido,
fruta vencida, repartida e distribuída no medo e na fragilidade das fantasias…
Aprendi que sem ti vago no imperfeito e o dia se termina…
Abracei o descontínuo da vida na mudança de cores,
alteração dos sons e espantos,
fatalidade de desencontros…
Aprendi finalmente que a serenidade reúne fragmentos,
reconstrói histórias e faz outra vez germinar o mistério da entrega…
(12.11.2001)