D. Demétrio Valentini 2 de junho de 2009

Tempos atrás a gente só fazia esta pergunta para fantasiar como seria a vida após a morte. Se não era possível descer a muitos detalhes, ao menos se sonhava São Pedro de bom humor, abrindo a porta para a gente ir entrando. As atenções se voltavam para o outro mundo.

Agora, com tantas mudanças em andamento, a pergunta vale para este mundo mesmo. Em meio ao ritmo alucinante de mudanças, nos perguntamos como será o dia de amanhã, como será a vida nos próximos anos.

A pergunta é tão freqüente, e angustiante, que muitas empresas já contratam futurólogos, para que tentem identificar estratégias de sobrevivência, num contexto de situações que mudam tão rapidamente.

Um deles é o escocês Eamon Kelly. Ele aprendeu a pensar o futuro, constatando as mudanças radicais por que passaram trabalhadores nas minas de carvão na Escócia, que simplesmente foram desativadas.

Ele faz algumas previsões, sempre aliadas a advertências. Supõe, por exemplo, que em poucos anos outros dois bilhões de pessoas no mundo serão integradas na economia mundial. Mas adverte que se esses dois bilhões assumirem o padrão de consumo dos americanos, seria necessário explorar cinco planetas como o nosso. Como só temos este, como se fará esta reeducação de costumes?

O Brasil está agora festejando a descoberta de surpreendentes reservas de petróleo, no pré sal. Só o campo de Tupi poderia fornecer de cinco a oito bilhões de barris. Mas se perguntamos pelas conseqüências da queima deste petróleo, quantos milhões de toneladas de gás carbônico seriam lançadas ao ar? Em que medida iria colaborar para o aquecimento global, que já está ficando perigoso?

Aí a pergunta sobre o futuro se reveste de angústia. E se o processo de aquecimento atingir um patamar de descontrole total, numa dinâmica irreversível de mudanças climáticas, como ficará nosso planeta? Após a sua reciclagem total, quem sobraria para contar a história? Chegaria o fim da espécie humana?

A pergunta pode ter incidências bem próximas e práticas. Como será o relacionamento entre as pessoas, que estarão com certeza super conectadas, mas com o risco de se desconectarem de valores vitais básicos, como a natureza, a família, a comunidade? Como ficará a vida sem este contexto salutar de convivência humana? Quem dará conta de administrar as tensões daí resultantes?

Como ficará o sistema de comunicação através do rádio e da televisão, arduamente construído ao longo de décadas, se passar a ser usado sem nenhuma regulamentação e sem compromissos éticos?

E assim a ladainha das interrogações poderia incidir sobre situações bem concretas. Como ficará o trânsito nas cidades e rodovias, se continuar o atual ritmo de novos veículos entrando em ação? Como ficará a vida e a economia quando finalmente se esgotarem as reservas de combustíveis fósseis?

Por mais que se escamoteie a pergunta, ou se diversifiquem as respostas, o certo é que já ninguém mais prescinde da ligação estreita que existe entre as condições de vida no planeta e a intervenção humana em seu processo.

E´ urgente identificar, com clareza, quais são as incidências reais na vida do planeta, de nossa atividade humana. Para direcioná-la com responsabilidade e compromisso ético, em busca do bem de toda a espécie humana e de todo o planta.

Faz cem anos, apenas, que o avião levantou vôo. Foram tantas as mudanças de lá para cá. Daqui para a frente, serão muito maiores, e mais rápidas. Como constatou a Conferência de Aparecida, vivemos não só uma época de muitas mudanças, mas uma mudança de época.
Como será? Quem viver, verá!

(*) (www.diocesedejales.org.br)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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