Vai ficar na história a viagem que Bento 16 acaba de fazer à Terra Santa. Não é por menos. Desta vez foi uma viagem com clara missão de paz, e com a declarada intenção de colaborar na solução do impasse que perdura desde a criação do Estado de Israel em 1948.

Seus antecessores também visitaram a região. Paulo VI lá esteve em 1963, bem no início do seu pontificado. Na época os atuais territórios palestinos estavam sob a responsabilidade da Jordânia. A visita ensejou o encontro com o Patriarca Atenágoras, de Constantinopla, iniciando um processo de reaproximação com a Igreja Oriental que ainda continua. Uma viagem, portanto, mais focada no relacionamento entre cristãos.

João Paulo II também empreendeu uma extensa visita à região, no arco da celebração do segundo milênio cristão.

Agora, Bento 16 dedicou suas atenções inteiramente à causa da paz. Sob este ângulo aparece a dimensão verdadeira desta viagem.

Em primeiro lugar, é de destacar a coragem de Bento 16. Ele já tinha experimentado na própria carne quanto é melindroso se referir a muçulmanos e a judeus. A prudência parecia recomendar que desistisse da viagem. Mas ao contrário, os episódios serviram de nova motivação para enfrentar com franqueza as complicadas questões históricas e geográficas que envolvem aquela conturbada região.

Aliada à coragem, destaca-se a clareza como Bento 16 abordou os temas inevitáveis desta viagem. Ancorado em seu firme propósito de colaborar na solução do conflito que se arrasta há décadas, não hesitou em descer em detalhes bem concretos em suas propostas de paz. Reconheceu, por exemplo, o direito de Israel a fronteiras seguras.

Traçou uma estratégia diplomática muito interessante. Começou pela Jordânia, onde louvou o clima de diálogo e de tolerância existente naquele país árabe. Estas referências serviram para urgir sua implantação também em Israel, para onde Bento 16 em seguida se deslocou, para concluir sua viagem visitando territórios palestinos, sobretudo um campo de refugiados, que são a expressão viva da injusta situação a que o povo palestino foi relegado, desde a criação do Estado de Israel.

Em pleno território palestino, Bento 16 proclamou sem rodeios a urgência da criação de um Estado Palestino, com fronteiras reconhecidas internacionalmente, sob os auspícios das Nações Unidas, a mesma entidade que ratificou em 1948 a criação do Estado de Israel.

Já foram empreendidas tantas iniciativas de diálogo entre israelenses e palestinos, todas fracassadas. Somos facilmente tentados a achar que esta foi mais uma, inútil e frustrada.

Mas, ao lado das necessárias precauções em projetar os acontecimentos desta região que vive em permanente tensão, há fundadas esperanças de que a sincera intenção do Papa surta efeitos positivos, e consiga tirar as negociações do impasse em que se encontram.

A gratuidade do gesto do Papa precisa despertar a consciência de todos os que têm culpa em cartório. Pois a “questão palestina” é fruto de questões mal resolvidas ainda do tempo da segunda guerra mundial. Assim como é a situação de muitos países da África, que ainda continuam pagando a conta de despesas feitas por outros.

A causa da paz, em qualquer lugar deste mundo, interessa a todos. Sobretudo neste lugar tão carregado de simbolismo como é a Terra Santa. Lá também, a paz precisa ser fruto da justiça, como nos lembrou neste ano a Campanha da Fraternidade.

(*) (www.diocesedejales.org.br)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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