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Onde estava escrito que ela não podia mais agir como uma criança?
Existe alguma norma, diretriz, lei que impede isso?
É proibido se desprender da fantasia real e não se preocupar com as incertezas da vida?
Ela se questionou e preferiu aceitar que todo mundo é meio careta (ela também era apesar de não ser todo mundo).
E por mais que soubesse que aos 20 não se pode voltar ao passado … ela preferiu ignorar isso por alguns instantes, algumas horas, alguns dias.
Abriu o guarda-roupa e procurou sua camiseta favorita.
Jogou os sapatos de salto e pegou uma sandália rasteira.
Trocou a calça de sarja por um bermudão descolado.
Bagunçou os cabelos.
Correu pelo espaço aberto.
Sentiu o cheiro do campo.
Rolou na grama.
Viu uma lagarta colorida caminhando em um tronco de uma árvore. Quis tocá-la, no entanto era mais prudente que não o fizesse.
Apanhou um punhado de terra.
Fez uma estradinha no chão.
Tentou fazer um castelinho de areia (mas isso só funciona na praia).
Brincou com um besouro.
Cheirou uma flor.
Atacou uma lata de brigadeiro (ficou engraçada toda lambuzada).
Se empanturrou comendo pipoca.
Arranjou um amigo imaginário.
Fez caretas no espelho.
Bisbilhotou os cremes da avó.
Viu os livros na estante da tia. Quis lê-los mais preferiu não abrí-los. Livros a seduziam e ela não queria correr esse risco.
Subiu numa mangueira.
Ensaiou um grito de Tarzam (saiu fraquinho).
Cantou uma cantiga antiga.
Tomou banho no igarapé.
Entrou molhada dentro de casa.
Ouviu a mãe gritando.
Afagou o cachorro que correu assustado.
Puxou o rabo do gato.
Quis pegar o passarinho que estava parado na janela.
Correu descalça.
Ficou ainda mais suja.
Cansou.
Parou alguns instantes.
Sorriu do estado em que estava.
Sorriu até ficar sem ar.
Respirou fundo.
Pegou as sandálias que estavam no chão.
Arrumou a roupa.
Adotou um andar elegante.
Saiu em disparada.
Voltou pra casa.
Sentou a menina-criança no sofá.
Era hora de voltar a realidade.
Obs: Imagem enviada pela autora.