fevereiro de 2009.

IMPACTOS DA CRISE

A tendência principal é que atual crise que também é cíclica, inaugure um longo processo depressivo, que dure vários anos. Um longo período depressivo admite breves momentos de retomada, mas inevitavelmente seguido de agravamentos maiores dos impactos sociais. O elemento diferenciador da nova conjuntura é abertura de um período de intensificação das reivindicações sociais possibilitando mudanças.

As medidas econômicas utilizadas para aplacar a crise, através de injeção de recursos para setores debilitados, se demonstrarão incapazes de conter o processo de queda da taxa de lucro, gerando tensões cada vez maiores resultantes de desemprego, flexibilização dos direitos trabalhistas e a tentativa de redução salários.

A crise econômica pode agravar a crise alimentar. A elevação do padrão de vida nos países asiáticos industrializados, especialmente China e Índia, provocaram um enriquecimento dos hábitos alimentares que não foi acompanhado pela produção de alimentos. Tal fato, aliado com a política de produção de agro-combustíveis, da penetração das transnacionais na agricultura e destruição sistemática dos programas de apoio á agricultura produtora de alimentos, acarreta um cenário de grave crise alimentar.

A crise atinge o Brasil em um momento em que a economia vinha apresentando indicadores positivos – redução de desemprego, pequena recuperação salarial e melhoria no acesso ao crédito. Este fator potencializa o impacto, gerando um agravamento súbito nas condições de vida da maior parte das famílias. O impacto da crise na economia latino-americana e brasileira, em especial no mercado de trabalho, já se fez sentir no final de 2008, mas eclodirá de modo drástico já no primeiro semestre de 2009, agravando-se ao longo do ano.

A crise, porém, abre uma oportunidade histórica porque altera o quadro geopolítico internacional que determina o rearranjo dos países e da ordem econômica mundial e possibilita iniciativas que enfraqueçam o imperialismo. Aos movimentos sociais cabe a tarefa de utilizar os recursos pedagógicos disponíveis para explicar as causas, efeitos e saídas para esta crise. Os grandes meios de comunicação explicam a crise como uma catástrofe da natureza… e exigirá uma postura passiva ante seus inevitáveis e terríveis efeitos. O papel do movimento social será explicar sua causa, apontar os responsáveis e propor as soluções que interessam ao povo.
As forças do capital transnacional, sob a hegemonia dos EUA, mantêm ainda a ofensiva, apesar do crescimento das múltiplas resistências nos países de nosso continente, cuja vitória principal se expressou na Campanha contra a ALCA.

As crises desestruturam os mecanismos de dominação e antecedem as mudanças ao impossibilitar as mesmas condições de sobrevivência e empurrar o povo na busca de saídas. A experiência demonstra que o povo busca esgotar os caminhos usuais e permitidos para a realização de suas esperanças.

O cenário provável indica as seguintes possibilidades e tendências que podem se tornar bandeiras mobilizadoras, em todo o mundo:

Aumento do desemprego em todos os setores da economia; fechamento e falência de empresas; carestia em razão do aumento dos preços dos alimentos; agravamento súbito das condições de vida das famílias que tiveram acesso a empregos e bens de consumo nos últimos anos; aceleração da deterioração e desmonte dos aparatos públicos de saúde e educação; manifestações em mercados e armazéns exigindo alimentos e ocupações de fábricas falidas, intensificação das medidas jurídicas e do aparato repressivo para criminalizar as lutas sociais; reconfiguração e fortalecimento do setor militar nos setores não atingido pela crise; necessidade de articulação de lutas continentais.

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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