As assembléias da CNBB sempre se realizam nas proximidades do Dia do Trabalhador. Por coincidência, neste ano a assembléia se concluiu com o Primeiro de Maio.

Esta circunstância fez dos trabalhadores uma presença constante nas assembléias, contribuindo para que a realidade do trabalho ajudasse a trazer presente, na reunião dos bispos, a situação vivida pelo povo.

Desta vez, além da coincidência da data, havia outro motivo a urgir um pronunciamento da CNBB sobre o Dia do Trabalhador. As conseqüências da crise mundial têm repercussão direta nos trabalhadores. Eles se tornam, de novo, o termômetro para medir a problemática social, decorrente da crise de amplo espectro que o mundo está vivendo. Comprova-se o que “o trabalho é chave de toda questão social”, como já dizia João Paulo II, em sua encíclica Laborem Exercens.

É neste contexto de crise mundial que chega a palavra dos bispos dirigida especialmente às trabalhadoras e aos trabalhadores.

“Neste ano, o dia 1º de maio acontece no contexto da crise que assola o conjunto da economia mundial. A crise mostra a sua face mais cruel ao se deslocar do capital financeiro para o setor produtivo, dizimando milhares de postos de trabalho, na cidade e no campo. Os países e as populações pobres sofrem mais diretamente as conseqüências do atual modelo capitalista de desenvolvimento, incapaz de assegurar a dignidade humana, garantir os direitos sociais básicos e preservar a vida em nosso planeta.”
Esta situação de crise leva a CNBB a expressar sua solidariedade, e reafirmar seu compromisso com os trabalhadores:

“Ao celebrar o Dia do Trabalhador, a CNBB confirma seu compromisso em favor dos direitos sociais do povo e, em especial, dos direitos trabalhistas e dos esforços para consolidar as suas organizações. Expressa também a solidariedade com todos os desempregados, vítimas da crise ou dos que se aproveitam dela. Os princípios da Doutrina Social da Igreja – a dignidade da pessoa humana, a destinação universal dos bens da terra e a prioridade do trabalho sobre o capital – inspiram alternativas para uma nova ordem econômica, em vista de um mundo justo e solidário.”

Esta solidariedade da Igreja não se limita ao conforto que resulta da estima pessoal e do reconhecimento da importância dos trabalhadores. Ela toma a forma de firme posicionamento em favor de suas causas, e a convicção de que a saída da crise passa pelo atendimento da pauta de reivindicações dos trabalhadores, como afirma com ênfase a nota:

“Os tempos atuais, mesmo difíceis, representam oportunidades para as mudanças necessárias em direção a uma nova ordem econômica. Nesse contexto, a Igreja faz ressoar o clamor dos trabalhadores por vida e dignidade. As aspirações do povo trabalhador, por meio de suas organizações, indicam caminhos para a consolidação dos direitos, tais como: não às demissões, valorização das aposentadorias, queda nos juros, redução da jornada de trabalho sem redução dos salários, reforma agrária e fortalecimento da agricultura familiar e agro-ecológica, combate ao trabalho escravo e degradante, valorização dos movimentos de trabalhadores desempregados, incentivo às iniciativas de economia popular solidária, investimento nas políticas públicas de saúde, educação e moradia.

Depois de dez dias de intensos trabalhos, os bispos concluem sua assembléia no Dia do Trabalhador. A mesma data é mais que mera coincidência. Lembra um compromisso histórico, entre Igreja e trabalhadores, que precisa ser levado adiante, no novo contexto de profundas transformações que atingem hoje o mundo do trabalho.

O DESAFIO DA AMAZÔNIA
D. Demétrio Valentini (*)

Dentre os muitos assuntos tratados na 47ª. Assembléia da CNBB, o que mais ficou em aberto foi a Amazônia.

Por sua própria configuração geográfica, a Amazônia é imensa. Pela exuberância de sua natureza, a Amazônia é fascinante. Pela riqueza de seu solo, de suas águas, de suas matas, de sua bio diversidade, a Amazônia é cobiçada. Por sua importância ecológica, pela influência que exerce no clima e no equilíbrio ambiental, a Amazônia é preciosa e indispensável. Pelas ameaças à sua integridade, pelos ataques à sua natureza, a situação da Amazônia é preocupante.

Por tudo isto, a Amazônia se torna um desafio para todos.

Preocupado com o equilibro ambiental, o mundo olha para a Amazônia, e manifesta o impulso de se sentir responsável por ela. Em sua canção sobre a Amazônia, Roberto Carlos capta bem este sentimento universal, relacionando “Amazônia” com “insônia”. Ela se tornou a insônia do mundo, que teme o aquecimento global e aspira abrigar-se à sombra da selva amazônica!

O Brasil foi agraciado com mais da metade da Amazônia continental. Nosso país começa a despertar para a responsabilidade de assumir e integrar seu território amazônico em sua nacionalidade, sob risco de perder o domínio sobre ele. O perigo maior e mais iminente é a cobiça internacional se revestir de zelo pela preservação da Amazônia para submetê-la aos interesses de sua exploração. O Brasil tem a urgente tarefa de se mostrar capaz de zelar por seu território amazônico, e zelar por sua função ecológica mundial.

E a Igreja do Brasil está diante de um desafio que não pode mais elidir: agora ela é chamada a assumir a evangelização da Amazônia. Os missionários estrangeiros já fizeram sua parte. Agora cabe à Igreja Católica do Brasil levar o Evangelho de Cristo aos povos da Amazônia, animando-os a assumirem sua própria vida eclesial, garantindo a vocação especial que Deus confiou a esta imensa região do mundo.

De pesadelo e insônia, a Amazônia precisa fazer parte de nossos sonhos e de nossos compromissos.

(*) (www.diocesedejales.org.br

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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