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Vejo a vida espelhada nos olhos, nos sorrisos. Espelhos que se espalham nas faces, nos rostos amargurados. Sou misericordiosa com o que vejo. Procuro preservar a inocência dos primeiros pecados. Esta é a forma que encontro de me ver perfeita ou quase nua ou nua, crua, sem arrependimento. Machuca-me a aceitação. Acreditar no que me estraga, dissolve e reduz. Sinto prazer na revolta que renova e sacode o torpor do pensamento constrangido.

Retardam-se os sentidos, diluem-se imagens na crueldade do tempo, do silêncio que já existia antes de Deus. Nem precisei dizer faça-se o som, ele estava em todas as coisas, nas primeiras palavras da desobediência, no balbucio do mentiroso, nos rosnados da covardia, do medo, da luxúria.

Obs: Texto extraído do livro da autora Memórias do Vento.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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