Para a Semana Santa convergem os dois trunfos mais importantes da Igreja Católica em nosso país.

De um lado, a Campanha da Fraternidade, instrumento privilegiado de inserção da Igreja na sociedade, assumindo causas importantes e de comum interesse, como se comprovou mais uma vez neste ano com o tema da segurança pública.

Por outro lado, as celebrações litúrgicas da Semana Santa, que melhor recolhem os sentimentos religiosos e a expressão de fé do povo brasileiro, desde o Domingo de Ramos, passando pela paixão do Senhor, e chegando à festa da Páscoa.

Nesta convergência entre ação social e celebração religiosa, encontramos a justificativa maior para a Igreja Católica se sentir integrada na história e na tradição do povo brasileiro, com o lugar que lhe compete de direito, como instituição que tem sua identidade própria, a partir de sua missão religiosa, mas que tem também o seu lugar na sociedade, por sua consistência institucional e pela atuação social que dela decorre.

As campanhas anuais de fraternidade, que há décadas a Igreja vem promovendo, se tornaram símbolo da interação positiva que pode existir entre uma entidade de cunho religioso, como é a Igreja Católica, e a sociedade civil de nosso país. Ao cumprir sua função específica de expressar a fé, a Igreja se mostra solidária com as questões que permeiam a vida da sociedade. Ela também oferece sua valiosa contribuição, seja motivando seus membros a participarem com responsabilidade da cidadania, seja oferecendo para a própria sociedade sua competente atuação concreta em diversos campos de ação social, sobretudo em atividades de caráter beneficente, mas também apontando valores que são coincidentes com o interesse comum de toda a sociedade.

Ao mesmo tempo, a Igreja se habilita a ter esta presença de credibilidade na sociedade, em primeiro lugar pela maneira correta de expressar a religiosidade do povo, colocando-se a serviço dos sentimentos de fé, para que eles encontrem expressão adequada na sociedade, que assim se enriquece de tradições salutares e muito significativas. Basta conferir quanto são apreciadas pelo povo as celebrações religiosas da Semana Santa, com as quais a Igreja Católica tradicionalmente mais se identifica. Se fosse suprimir estas celebrações, que empobrecimento isto significaria para a sociedade brasileira, que conta com elas até para estabelecer a data do carnaval!

A credibilidade da Igreja Católica na sociedade brasileira tem sua maior justificativa na coerência ética com que a Igreja lida com os sentimentos religiosos. Ela sabe que estes sentimentos precisam ser bem assumidos e conduzidos com responsabilidade. E todos constatam como estes sentimentos são facilmente explorados, levando instituições religiosas a se enriquecerem de maneira desonesta, explorando o apelo forte da religiosidade do povo brasileiro, e ao mesmo tempo explorando sua ingenuidade, sua falta de discernimento, e também sua crença fácil em todos os que se apresentam com fachada eclesial, muitas vezes mascarada sutilmente com artifícios de seriedade, mas que escondem espertezas enganadoras.

Quando a religiosidade do povo é explorada de maneira desonesta, cabe ao Estado, por seus instrumentos legais, desmascarar as instituições que se revestem de funções religiosas, mas na verdade são meras empresas que vivem explorando a religiosidade popular, inclusive eximindo-se de obrigações fiscais. E´ tarefa delicada, que necessita de parâmetros legais para ser exercida com segurança.

Daí a importância do Estado dispor desses parâmetros legais, para agir com segurança jurídica e presteza eficaz. Neste sentido, é bem vindo o “Acordo” firmado recentemente pelo Governo Brasileiro e a Santa Fé, regulando a existência e a atuação da Igreja Católica no Brasil. Ele somente explicita o que o ordenamento jurídico brasileiro já reconhece. Nas próximas semanas ele será levado ao Congresso Nacional, para ser ratificado, como manda a Constituição Brasileira. Tornado público e reconhecido oficialmente, ele pode se tornar parâmetro válido para todas as instituições religiosas que aceitam o confronto transparente com a sociedade e o Estado Brasileiro.

O contexto da Campanha da Fraternidade e da Semana Santa pode servir de boa justificativa, para os Congressistas que talvez ainda não atinaram para a importância deste instrumento jurídico que eles são chamados a analisar e a ratificar.

(*) (www.diocesedejales.org.br)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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